31 de dezembro de 2010

OS VENCIDOS DA VIDA

  

     O Exmo. Sr. Doutor Mário Soares, disse à dias numa entrevista à Revista Visão que:

-" Irritam-me os portugueses que se comprazem em dizer mal de Portugal. Esta moda, snobe, vem desde os Vencidos da Vida, uma tertúlia chique, criada em finais do século XIX".

        Uma observação desta natureza só podia ser orquestrada por Sua Exa. o Ex/Presidente da República   ( por acaso do PS), Ex/Primeiro-Ministro (por acaso do PS), Ex/Deputado Europeu (por acaso do PS), Presidente da Fundação Mário Soares (gostava de saber para que é que serve a Fundação). Esta 'Máxima' relembramos aos menos atentos, foi, dizia eu, orquestrada por acaso (???) durante um Governo (???) PS.

Permita-me Sr. Doutor, mas o Senhor está a fazer confusão entre o olho do cu (ânus) e a Feira de Beja.
São pouquíssimos os Portugueses (não conheço algum e conheço muita gente) que se comprazem a dizer mal de Portugal, regra geral (daí talvez a sua confusão) dizem mal, muito mal, dos tiranos que tem administrado a Nação, em especial nos últimos trinta anos ( onde V. Exa. se inclui). 'Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado'  e não é, nunca foi, nem há-de ser com Dantas como o Sr. e os seus 'camaradas'. Os factos atestam o que escrevo e como se não bastasse até alguns dos seus 'amigos' vieram lembrar-nos as 'Nódoas' que proliferam no 'Pano Luso':
-"A Justiça é a mais lamentável nódoa da Sociedade Portuguesa", António Barreto (por acaso foi ou é do PS) in, Diário de Notícias 29.12.2210; é a mais, diz aquele sociólogo, subentende-se mais nódoas. Claro que serão poucos a dar crédito àquilo que V. Exa. de vez em quando se lembra de argumentar, até porque todos (ou quase todos) reconhecem o Sr. como um "Grande Artista" a começar pela sua casa. Sua Digníssima esposa numa entrevista ao Jornal de Negócios disse:
- " Qual é o Presidente da República que não é actor? Todos os políticos têm de representar", Maria Barroso, antiga primeira-dama in Jornal de Negócios.
  Quem tem telhados de vidro, não devia atirar pedras aos telhados dos outros.
  Quando será que o Sr. Doutor segue o exemplo de um outro seu 'Grande Amigo' e nos deixa em paz?

28 de dezembro de 2010

Em que país eles vivem?

 À minha volta vejo vidas adiadas e carreiras desmoronadas. Depois leio o que por aí se escreve sobre um povo que não sabe viver com o sacrifício e pergunto-me: em que país vivem os nossos colunistas? 

Em frente a mim, um amigo com uma longa carreira almoça. Percebo que não o faz há dias. Demasiado novo para se reformar, demasiado velho para começar de novo, vive no limiar da sobrevivência. Mantém-se bem vestido para tratar das aparências. Tenta manter aquela dignidade que sempre me mereceu admiração.
No chat, converso com um amigo emigrado. Excelente no que faz, quando chegou a Lisboa parecia que a sua carreira não encontraria grandes entraves. Até que, cansado de viver de recibos verdes mal pagos em ateliers que tratam o talento como coisa irrelevante, decidiu partir. Sem nada que o esperasse no destino. Lá se está a safar. Mas, apesar disso, quer saber como isto vai porque ainda não perdeu a esperança de voltar.
Olho em volta e vejo os meus amigos mais promissores a dar aulas em universidades estrangeiras, com condições que aqui seriam virtualmente impossíveis. Outros a trabalhar em call-centers ou a viver de biscates, com as suas vidas adiadas para sempre. Vejo os pais deles a carregarem até à velhice o fardo de garantirem a sua sobrevivência. E a dos netos, quando os filhos tiveram coragem para tanto.
Diariamente cruzo-me com a angústia de vidas impossíveis, onde tudo é contado. De trabalhadores menos qualificados aos melhores quadros que o nosso sistema de ensino produziu. Tanto desperdício de talento que perco a esperança neste país.
Isto é o que vejo. Depois leio textos de colunistas e economistas. Vivemos acima das nossas possibilidades. Habituámos-nos ao bem bom. Perdemos a ética do trabalho. Já não sabemos o que é o sacrifício. Fico agoniado e assalta-me uma dúvida: sou eu que conheço demasiados azarados ou esta gente que escreve nos jornais e fala na televisão vive num País diferente do meu? 

Por Daniel Oliveira in Expresso On-Line 

27 de dezembro de 2010

Natal de 1971 (e de agora), Jorge de Sena

Natal de quê? De quem?                                         
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Ou de quem traz às costas
as cinzas de milhões?
Natal de paz agora
nesta terra de sangue?
Natal de liberdade
num mundo de oprimidos?
Natal de uma justiça
roubada sempre a todos?
Natal de ser-se igual
em ser-se concebido,
em de um ventre nascer-se,
em por de amor sofrer-se,
em de morte morrer-se,
e de ser-se esquecido?                                       
Natal de caridade,
quando a fome ainda mata?
Natal de qual esperança
num mundo todo bombas?
Natal de honesta fé,
com gente que é traição,
vil ódio, mesquinhez,
e até Natal de amor?
Natal de quê? De quem?                       
Daqueles que o não têm,
ou dos que olhando ao longe                                                    
sonham de humana vida
um mundo que não há?
Ou dos que se torturam
e torturados são
na crença de que os homens
devem estender-se a mão?

18 de novembro de 2010

Goldman Sachs: um dos tentáculos do polvo.


Nos últimos anos um nome surge com frequência no sistema financeiro internacional: Goldman Sachs. Entre escândalos e corrupção este banco de investimento nunca teve tantos lucros e influência.



Bem-vindo ao submundo dos verdadeiros governantes mundiais.

Salários milionários.

Este ano o CEO da Goldman Sachs, Lloyd Blankfein, vai receber um prémio anual de apenas 9 milhões de dólares. Digo apenas, porque em 2008 esse prémio tinha sido de 68 milhões. De qualquer maneira, ele não está propriamente na miséria, só em títulos da Goldman Sachs tem uma fortuna calculada em cerca de 500 milhões de dólares.

O senhor Blankfein dirige o mais prestigiado banco de investimento de Wall Street e é considerado o mais poderoso não só pela sua riqueza, mas também e sobretudo pela sua teia de influência no mundo do poder.

Em 2008, o mundo descobre que um banco, até aqui desconhecido do grande público, o Lehman Brothers, podia por em perigo a economia mundial. Abandonado pela banca central americana, a sua falência dia 14 de Setembro de 2008 desencadeia a maior crise financeira da história.

Com a falência da Lehman Brothers sobra um banco dominante neste sector: o Goldman Sachs. Esta instituição poderosíssima está em todas! Crise grega? Goldman. Queda do euro? Goldman. Recusa de regulação dos mercados financeiros? Goldman. Eliminação do Lehman Brothers? Goldman. Venda de 44% das acções da BP, três semanas antes da catástrofe. Goldman.


Os tentáculos do poder:

A sua rede de influência está presente nos principais sectores financeiros, económicos e políticos.
Vejamos:

- Henry Paulson, número dois da Goldman Sachs (GS), tornou-se secretário do tesouro americano de George Bush;
- Robert Rubin, foi o patrão da GS depois de ter sido secretário do tesouro de Bill Clinton;
- Donald Sutherland, antigo comissário europeu da concorrência, ex-presidente da Allied Irish Bank, do GATT (agora OMC), da BP, tornou-se presidente da Goldman Sachs Internacional;
- Mario Draghi, governador da banca italiana tornou vice presidente da GS Internacional;
- Mario Monti, ex-comissário da concorrência em Bruxelas, tornou-se conselheiro de negócios estrangeiros da GS;
- Otmar Issing, ex-director da Bundesbank, tornou-se conselheiro internacional da GS.


Goldman Sachs ao longo do tempo multiplicou as suas acções opacas e pouco éticas: tinha participações em empresas que aconselhavam a clientes como investimento, utiliza frequentemente a técnica bolsista de venda a descoberto, especula sobre as divisas, especula sobre as matérias primas,...




















Grécia: contribuição do GS num afundamento planeado.

O caso grego é paradigmático da actuação da GS ao ajudar este país a esconder a sua dívida para depois tirar benefícios do seu "investimento".
Entre 2001 e 2004, a Grécia vendia a sua dívida soberana no mercado emitindo obrigações em euros ou outra moeda aconselhada pela GS. Em 2009 perante uma dívida cada vez maior, aconselhada por Gary Cohn, o número dois da GS, a Grécia vai ser "ajudada" a sair da crise.

No fim de 2009, numa operação concertada, a agência de notação Fitch baixa o rating da Grécia. Pouco depois, no dia 27 de Janeiro de 2010, a Goldman Sachs faz correr o a informação falsa de que a China tinha recusado comprar 25 mil milhões de euros de emissão de dívida à Grécia. Apesar do desmentido grego oficial, foi o suficiente para aumentar a taxa de juro do dinheiro pedido. Goldman Sachs tinha um interesse particular nesta operação: ganhar mais-valias.

Pouco depois, a Grécia, pressionada pela União Europeia teve de substituir o seu responsável pela dívida pública Spyros Papanicolau por Petros Christodoulou. O que se esquecem de dizer é que, antes deste posto, Petros Christodoulou trabalhava para ... a Goldman Sachs.






Este excelente livro de Marc Roche (apenas em francês), revela um pouco deste banco ultrasecreto, um dos mais poderosos do mundo, infiltrado em todos os negócios fianceiros, de grande promiscuidade com a classe politica e interlocultor priviligiado das grandes organizações internacioanis e do FMI.









Publicado por Octopus:  http://octopedia.blogspot.com/

14 de agosto de 2010

Uns dormem, outros não!

Estudo publicado na «Current Biology»


Já há quem diga que uma boa noite de sono é meio sustento. Mas, como conseguem algumas pessoas adormecer em qualquer circunstância ou local, enquanto outras se mantêm acordadas ou estremecem se ouvirem um barulho durante a noite? Um estudo publicado na edição deste mês da «Current Biology», na publicação Cell Press, explica como se apresentam diferentes padrões de ritmos cerebrais espontâneos.
“Ao medir as ondas cerebrais durante o sono, podemos aprender muito sobre o quanto o cérebro de determinada pessoa pode bloquear os efeitos negativos dos sons; quanto mais rotações ou eixos do sono o cérebro produz, mais provável será manter-se adormecido, mesmo quando confrontado com ruído”, assinalou Jeffrey Ellenbogen, da Harvard Medical School (EUA).

Durante o sono, as ondas cerebrais tornam-se lentas e organizadas, continuou Ellenbogen. As ligações do sono referem-se a rápidas pequenas explosões de ondas de frequência. Estas explosões de actividade são gerados por uma parte do cérebro chamada tálamo, que funciona como uma via para a maioria dos tipos de informação sensorial (excepto o olfacto).

"O tálamo é capaz de impedir a informação sensorial de chegar a áreas do cérebro que se apercebem e reagem ao som," disse Ellenbogen. “O estudo fornece evidências de que o eixo do sono é um marcador de bloqueio. Quanto mais ligações houverem, mais estável será o sono”.

O investigador e os seus colegas foram surpreendidos pela magnitude do efeito das ondas cerebrais durante o sono. Observaram padrões cerebrais quando analisavam um grupo de participantes, durante três noites em laboratório, enquanto dormiam.

Na primeira noite, não houve barulho, já a segunda e terceira foram bastante ruidosas porque os cientistas provocaram uma série de sons, tais como, telefones a tocar, conversa de pessoas, sons mecânicos, entre outros. “O efeito das ondas cerebrais do sono foi tão acentuado que se conseguiu perceber após a primeira noite”, disse. Os investigadores esperam encontrar formas de melhorar os ‘fusos’ do sono, através de técnicas comportamentais, fármacos ou aparelhos, mas ainda não têm claro como fazê-lo.

Solução de base cerebral


Ellenbogen avançou que estes avanços são especialmente bem-vindos, nos dias que correm, já que os ambientes onde dormimos são cada vez mais complexos e problemáticos, com sinais sonoros e pelo facto de vivermos 24horas e sete dias cheios de azáfama, a que nos sujeita a vida moderna. “O objectivo é encontrar uma solução de base cerebral que integre o sono de determinada pessoa dentro do seu ambiente moderno, tal como conseguir mantê-lo perante diferentes ruídos”, acrescenta.

O investigador vislumbra agora um futuro com acesso a múltiplas estratégias, com base na ciência do sono profundo e tecnologias, para ajudar a manter-nos adormecidos quando queremos dormir e despertar quando é hora de levantar. Entretanto, pode-se sempre afixar um cartaz na porta, que diga: “Silêncio!”

Um dos conselhos deixados por Ellenbogen, para quem precisa de adormecer com a televisão ou rádio ligados, é sintonizar o ‘timer’ para que se desliguem instantaneamente. “O barulho interrompe o sono e desequilibra-o, mesmo sem que nos apercebamos”, conclui.
in,CiênciaHoje

21 de julho de 2010

O Livro dos Rostos

Qual é o interesse de ter milhares de amigos virtuais?

O nome da coisa é Facebook, o que começa logo por me irritar. Não tenho nada contra a língua inglesa - só não percebo porque me hei-de ajoelhar diante dela quando tenho a sorte de ter uma outra língua, menos internacio­nal mas menos banalizada. O português tem palavras difíceis de traduzir - não é só a sauda­de; é, por exemplo, o desenrascanço.
 O inglês também tem coisas só suas: dizer "I'm longing for you" não é a mesma coisa do que dizer "desejo-te ardentemente", até porque ninguém pode dizer isto em português sem se rir.
Como "I'm falling in love" não pode traduzir-se por "estou a ficar apaixonado/a", "estou a apaixonar-me" nem sequer "estou apaixonado". Estas três expressões não transmitem a sensação de vertigem lenta e fulminan­te de alguém que está a cair no amor. A capacidade de síntese da língua inglesa tornou-a o esperanto do mun­do e apoucou-a. Grupos de rock portugueses cantam em inglês para chegar "mais longe". O inglês torna-lhes mais fácil escrever versos curtos e que, julgam eles, entrem no ouvido. Esta facili­dade não tem compensado, e ainda bem: os cantores de língua portuguesa que conse­guem maior internacionaliza­ção são os que se dão ao trabalho de criar na língua que é sua. Os poemas que Amália cantava não eram fáceis e chegaram aos Estados Unidos e ao Japão. Como chegaram os Madredeus, Mari­za, Caetano Veloso ou Maria Bethânia. Por outro lado, as várias versões do português sempre se entenderam ­não é por escreverem actual sem c ou os nomes dos meses com minúsculas que se entenderão melhor. Os brasileiros continuarão a chamar camisola à camisa de dormir e a usar o verbo trepar como sinónimo de tran­sar, um verbo amável que os portugueses não têm. Além das diferenças vocabulares, persistirão as diferenças na gramática e na sintaxe - criativas, inspiradoras diferen­ças, que impedirão sempre a unificação dos manuais escolares nos países de língua portuguesa, mantendo a música específica de cada versão do português. Expli­quem-me, por favor, para que serve o acordo ortográfico - e digam-me quanto desse dinheiro que não gastamos a promover a cultura de língua portuguesa ele nos custou. Quanto custou o tal lince descodificador? Quanto custa­ram as reuniões dos cérebros que produziram a maravi­lha? Quantos milhões de livros se deitarão para o lixo por neles estar escrito "afecto" em vez de "afeto"?
Agora, quando me falam da necessidade absoluta de estar no Facebook, respondo simplesmente: "Não entro numa coisa que nem sequer consegue ter um nome na minha língua." Facilita. As pessoas ficam a olhar para mim com um ar apiedado, julgando-me uma provinciana sem remissão. Sucede que a mim me parece que não há nada mais provinciano do que usar palavras de outra língua. É uma batalha antiga e dura: nos idos de 90 do século passado proibi os títulos em língua estrangeira numa revista que então dirigi e debati-me com uma incompreensão quase geral, à excepção (com um poderoso p) de algumas almas mais seguras e cosmopolitas. Alegavam que o próprio título da revista já era estrangeiro (francês); eu contrapunha que, por isso mesmo, convinha que a edição portuguesa fosse inteiramente nacional. Claro que não é só o nome da coisa que me afasta do Facebook: é o próprio conceito. Se já não tenho tempo para conviver com os meus amigos efectivos (com c), para que me interessa criar milhares de outros, virtuais? Gosto das caras dos meus amigos. Tenho prazer em partilhar risos e lágrimas com essas caras. Há semanas, a minha cabeleireira perguntou-me se eu estava no Facebook - porque estava lá alguém a fazer-se passar por mim, com uma fotografia minha e tudo. O que a fez desconfiar foi que esse meu fantasma pedia que alguém o ajudasse a administrar a página. Conhecendo-me há anos a cara, o cabelo e tudo o que nesses espelhos concretos se vê, a cabeleireira estranhou que eu pedisse essa "ajuda" . Uma amiga tratou de desmascarar imediatamente o fantasma - e recebeu um telefonema dos administradores do livro dos rostos pedin­do-lhe o meu contacto para confirmarem a fraude. Claro que essa minha amiga não deu o meu contacto ­mas conseguiu, pelo menos para já, acabar com o pro­blema. Parece que já lá tinham aparecido amigos e conhecidos de há vinte anos que estavam a ficar ofendidos com a minha falta de resposta. Pois é: eu continuarei a insistir em ter uma vida real. Como se diz em "facebookês": sorry .
Crónica de Inês Pedrosa, no Expresso de 17.7.2010

3 de julho de 2010

A destruição do Estado "democrático" burguês pela própria burguesia.

* Victor Nogueira
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Sócrates e Cavaco, que de filosofia pouco devem saber incluindo quem foi e o porquê da importância de Sócrates, têm escavacado a economia portuguesa, na linha dum ilustre antecessor, Mário  Só-ares ! Mas Pepe Sócrates" vai mais longe, destruindo os pilares do Estado, necessariamente repressivo.
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Ao contrário da fachada Marcelista, trata-se duma involução na continuidade. Desautorizados os seus agentes repressivos que agem em nome da "democracia" na Saúde, no Ensino, na Justiça, nas Forças Armadas e Policiais ou militarizadas, esmifrando até ao tutano quem não seja milionário,  futebolista de sucesso ou administrador de grandes empresas públicas ou privadas, cortando nos air-bags ou almofadas do descontentamento social, criam, simultâneamente com a destruição de estrutura produtiva nacional e a alienação do controle de sectores estratégicos da mesma,  e transformam a justiça e os tribunais em redes abertas por onde passam à vontade tubarões, polvos e peixe miúdo.
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Os grandes escapam impunemente pelas malhas da rede e os pequenos continuam a sua actividade de violência, tudo isto para criar um estado de descrença na justiça e um sentimento de insegurança, ante-câmara para a instauração dum regime autoritário como albergue espanhol ou casa de alterne de PS e PSD mais o sacristão do CDS/PP. O que é preciso é que esteja travestido de socialista, democrata ou social democrata, tudo "popular".
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Retrospectivando a cena internacional, Bin Laden continua à solta, Gorbatchov é um caixeiro viajante descartado, não houve mais ataques da Al-Quaeda nem os EUA voltaram a ser agredidos intra-muros, não se falou mais do pó branco (carbúnculo) e das cartas armadilhadas, festeja-se a Queda do Muro de Berlim mas nem uma palavra sobre as fronteiras invisíveis do muro de Schengen  ou dos muro rendilhados que Israel tece em torno da Palestina ou que brutalmente os EUA erguem na fronteira com o México. Paredões que no primeiro caso e nos último servem apenas para permitir de facto a imigração ilegal porta aberta para trabalho escravo, cuja finalidade é apenas enriquecer uns poucos sem que de nada sirva a produção ... pois a miséria é crescente e não há poder de compra. Trata-se dum sistema - o capitalista - completamente predador, egoísta e virado para o imediato, apoiado em "indústrias" virtuais ou bolsas especulativas com a fragilidade duma bola de sabão! 
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Um sistema que já se descartou do velho conceito de "nação" e de valores culturais próprios, tudo amalgamado num "governo" supranacional disputado entre as grandes potências capitalistas, num campeonato do vale-tudo onde os serventuários, por um prato de lentilhas, vendem a honra e recebem a paga da traição e da mentira, em ferozes matilhas que desconhecem os valores da Humanidade e da Natureza.
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Haverá algo que os distinga de Gengis Cão ou do cabo austríaco antecessor de "Angela" Merckl ?

O Iraque afinal não tinha armas de destruição maciça mas é um território, berço duma civilização milenária, com os recursos naturais a saque, tal como o Afeganistão, onde a destruição dos Budas  pelos taliban levantou ondas de protesto, enquanto se silencia a destruição do património edificado, natural e cultural perpetrado pelos zelosos defensores da Liberdade e da Democracia, diáfanas fachadas que mal escondem a mentira. A própria Organização do Tratado do Atlântico Norte, fruto da cruzada anti-comunista e anti-soviética, persiste, alargando-se tornado obsoletos todos os conceitos geográficos. Afinal existe apenas um único Oceano que cobre todo o planeta - o Atlântico Norte - e Portugal, pela mão de Só-Ares, entrou com pompa e circunstância ... na Europa. Porque continente teriam andado os seus habitantes desde 1140 até ao milagre dos Jerónimos? Em que misteriosa Atlântida ?
.
Sim, nós podemos mudar a agulha mas ... querem mesmo mudar de agulha ou esperam o inevitável momento de Brecht?
.

* * *

Primeiro levaram os comunistas 
Mas não me importei com isso 
Eu não era comunista
Em seguida levaram alguns operários

  Mas não me importei com isso 
Eu também não era operário
Depois prenderam os sindicalistas
 
Mas não me importei com isso 
Porque eu não sou sindicalista
Depois agarraram uns sacerdotes
 
Mas como não sou religioso 
Também não me importei
Agora estão me levando
 
Mas já é tarde.
.
***
.


Nós vos pedimos com insistência
não digam nunca:
isso é natural!
diante dos acontecimentos de cada dia
numa época em que reina a confusão
em que corre o sangue
em que o arbítrio tem força de lei
em que a humanidade se desumaniza
não digam nunca:
isso é natural!
para que nada possa ser imutável!

* * *

O chanceler abstémio
.
Eu soube que o Chanceler não bebe
Não come carne e não fuma
E mora em uma casa pequena.
Mas também soube que os pobres
Passam fome e morrem na miséria.
Bem melhor seria um Estado em que se dissesse:
O Chanceler está sempre bêbado nas reuniões
Observando a fumaça de seus cachimbos
Alguns iletrados mudam as leis
Pobres não há.
.
 .
blogue:http://mundophonographo.blogspot.com/

27 de junho de 2010

Um Anjo de Bicicleta


"Andar de bicicleta, numa ciclovia que leva a lugar nenhum, somente pelo prazer de desfrutar, pode ser um hábito saudável e uma forma de desligar do dia-a-dia e do corre-corre.
Mas a bicicleta possui um poder e um simbolismo maior para muitos. Usá-la tem sido, para muitos, uma forma central de resistência, de crítica e de anúncio. Com ela se resiste a sucumbir à cultura auto-destrutiva do automóvel, com ela se estabelecem críticas à sociedade da aparência e da sensação de poder que se tem em montar um carro e sair por ai com a atitude de dono do mundo, isolado do resto da criação. E com ela se anuncia um outro mundo possível, à mão e disponível para começar a ser vivido já. Ela traduz um jeito de ser e viver, um determinado reencontro com a humanidade e traz a possibilidade de voltar a enxergar os que estão ao lado. Ela é, como dizia Ivan Illich, o veículo da revolução, que se faz nem tão rápida como a pretensão do automóvel, nem tão lenta como a marcha a pé, mas “preferencialmente sobre duas rodas”.


Uma das pessoas que recentemente mostrou esse poder da fraqueza tendo como símbolo a querida 'magrela' foi Claudio Hugo “Pocho” Lepratti (27/02/1966 – 19 de Dezembro de 2001).

Conhecido como o “anjo da bicicleta”, este activista foi morto em Rosário, Argentina no meio dos protestos que marcaram a grave crise que aquele país passou e que teve seu cume com a renúncia do presidente La Rua, naquela mesma semana de 2001.
Há somente 9 anos atrás a população argentina enfrentava desemprego de mais de 50% de sua população. Fome e miséria faziam parte da realidade de muitos, e como sempre nesses casos, quem mais sofre são as crianças, que têm seu presente oprimido e seu futuro roubado, e os velhos, que têm seu passado desrespeitado.


No meio deste quadro, um jovem professor de filosofia, um assumido teólogo de rua, um cristão comprometido com a causa do pobre, subia na sua bicicleta e dava de comer, para a alma e para o corpo, a meninos e meninas do bairro pobre, da “Villa Miseria” onde decidiu viver para servir. Eis aqui sua história breve.


Lepratti nasceu em Concepción del Uruguay, Entre Ríos, e estudou direito entre 1983 e 1985, enquanto ao mesmo tempo era um colaborador dos Salesianos de Dom Bosco. Depois disso ele entrou no seminário salesiano Ceferino Namuncurá em Funes, Santa Fe, como irmão cooperador. Ele estudou filosofia e se tornou professor.


Os estudantes do seminário eram levados a visitar lugares próximos com a finalidade de entrar em contacto com a realidade do dia-a-dia dos pobre e com eles trabalhar. Lepratti acabou pedindo para estender esta prática para um constante trabalho entre os pobres, mas seus superiores disseram que ele precisava manter seus votos de obediência e se manter estudando. Devido a isso, após 5 anos ali estudando ele decidiu deixar o seminário e foi viver  numa favela, ou “Villa Miseria”, no Barrio Ludueña, Rosário.


Na paróquia liderada pelo padre Edgardo Montaldo, ele criou e coordenou um número grande de grupos de crianças e jovens, organizou excursões, ateliers, etc. Além disso, ele trabalhou como auxiliar de cozinha nas instalações que proviam comida para as crianças pobres da favela, e ensinava filosofia e teologia na escola paroquial.


O ASSASSINATO


No fim de 2001, a Argentina estava chegando ao máximo de sua crise económica, marcada por recessão e desemprego extremo. Em 18 de Dezembro, distúrbios, saques e protestos tomaram o país, chegando até à grande Buenos Aires. O Presidente Fernando de la Rua ditou um estado de emergência, suspendendo as garantias constitucionais, e começou uma forte repressão.

Lepratti vivia na 'villa miseria' em Ludueña mas fazia trabalho voluntário diário em uma escola no 'Barrio Las Flores', no sul de Rosário.




Em 19 de Dezembro, a polícia de Santa Fé cercou a área da escola para sufocar um protesto que estava crescendo, com piquetes e bloqueios em avenidas próximas. Lepratti e dois outros membros da equipe subiram ao telhado da escola para avaliar a situação, no meio do tiroteio, eles começaram a gritar para a polícia pedindo o cessar-fogo, dizendo: “Não atirem, aqui só tem garotos comendo”. Naquele momento, um projéctil de chumbo de uma calibre 12 partiu da arma do policia Ernesto Esteban Velázquez e atingiu Pocho na traqueia, tendo falecido antes de chegar ao hospital.

Pocho fazia tudo isso montado em sua bicicleta. O meio de ir e vir que permite olhar no olho, ver a face, cumprimentar e ser humano. E que ele usava para ir longe e se manter próximo.
Sua morte foi um marco para três movimentos: o de mobilidade urbana, o de compromisso com os pobres e o de comunidades cristãs de base. O símbolo de uma bicicleta alada se espalhou, um anjo subiu numa bicicleta e passou a inspirar os outros.

Leon Gieco gravou um clipe com a música “angel de la bicicleta”: 




E era isso, ele fazia um trabalho de formiguinha, parecia nada, mas aqui estamos nós, discutindo sua vida, exemplo e morte. Mais um santo do dia, mais um anjo, fazendo a revolução, em cima de duas rodas.
Assim, como uma formiga, cada um de nós pode fazer mais com nossa vida e com nossa energia do que entrar no carro e crer que o maior problema de nossa vida é o engarrafamento."

Carta aberta à familia Espírito Santo


Cresci a ouvir falar da vossa família com uma reverência quase tão mística co­mo a matriz bíblica do nome que vos designa.
Em 1931, o vosso avô Ricardo foi me­cenas de uma obra social fundada por minha avó, e é em nome dessa memória afectiva que venho hoje gal­vanizar-vos.

Sabem? Herdeira genética do Salazarismo, mas peni­tente pelos efeitos do seu regime, sinto-me hoje ludi­briada por ter dado o benefício da dúvida a quem se perfilou na defesa das suas vítimas para agora as de­fraudar, apropriando-se de todos os tiques, luxos e vas­salagem que, rusticamente, se associam à direita, e de que toda a Esquerda persistente deveria, ao menos, recatar-se.
Na verdade, devo a meu pai tudo o que sei de políti­ca: "Nenhum sistema ou nenhuma ideologia pode hoje considerar-se a salvo de suspeita".
Lição breve, mas que sobra para enxergar quando me enganam: o nosso primei­ro-ministro está mais preocupado em encobrir o lóbi argentário que o asse­dia do que em escorar Portugal con­tra a calamidade mundial que afun­dará, em primeiro lugar, econo­mias frágeis como a nossa.
Todavia, presenciar os ultrajes a , que se presta - sem saber ou poder defender-se - não é um espectáculo me­nos triste do que assistir à demissão dos portugueses que, lesados, falidos e ultrapas­sados por jogadas de bastidores, contam anedo­tas para expurgar a impotência.
Sei que sabem: as 'classes' acabaram finalmente, não por promessas de Abril - ingénuas nesta ma­téria - mas porque tanto operários como inte­lectuais se irmanam hoje no garrote da penúria para que meia dúzia de plutocratas possam beneficiar-se com o que, em justiça, caberia a todos, segundo os chavões humanistas de que sempre se socorrem para burlar os eleitores.
Diverso, o vosso caso: o que se ouve neste momento, nas vossas costas, tanto nas salas co­mo na rua, 'é que a força deste Governo não lhe advém dos cabelos, como em Sansão, mas da retaguarda que o vosso Grupo' lhe assegura para acautelar negócios que, com o álibi das metas europeias e a promessa de retornos delirantes, vão cavando a nossa sepultura.     
'Refiro-me, claro, a todos estes investimentos - ino­portunos nos prazos - em que Sócrates vem embar­cando, com a chancela de consórcios financeiros on­de, surpreendentemente, consta sempre o vosso Gru­po: novas redes de auto-estradas, pornográficas para quem não tem que comer; o TGV para Madrid e a extravagância de uma terceira travessia sobre o Tejo; um aeroporto importante do ponto de vista logístico e estratégico, mas sem tráfego que justifique um projecto faraónico.   
É, pois, na qualidade de patriota angustiada, que vos rogo que recordem o seguinte a quem, de entre os vos­sos - tão endividado como nós; e a outra escala - possa ­também ressentir-se.
Ao contrário do vosso Grupo - e doutros, claro, mas com menos pergaminhos - não teremos a Suíça como abrigo quando a lâmina da bancarrota nos cortar a ju­gular, pelo que será aqui mesmo, em solo lusita­no, desonrados e pe­recendo entre es­combros,que exa­laremos o último suspiro.
Se nem isto os demover, pois en­tão que se perfile, coerente, a fé cris­tã da família: estão em causa montan­tes capazes de sal­var, literalmente, mi­lhares de irmãos da de­sonra, da doença, da mor­te nos hospitais, sem cama
nem assistência, e do recurso ao suicí­dio para o qual a Estatística nos tem vindo a alertar e que disparou, em flecha, desde o princípio da crise.
Confiem: lembrar-lhes isto seria o acto mais nobre de lealdade a Portu­gal, tratando-se de um Grupo que, desde o Estado Novo até hoje, tem podido prosperar graças à indul­gência de todos os governos e à vis­ta grossa de um povo já exangue.
Dirão que o GES está no seu pa­pel e que cabe a Sócrates preve­nir-se; direi eu, que estou no meu, que me cabe defender a minha pátria de quem quer que a ameace.
Rita Ferro, in Expresso de 12 de Junho de 2010

17 de junho de 2010

Hormona do amor favorece coesão de grupo e atitude defensiva face a estranhos


                             A oxitocina tem fama de ser a molécula do amor,    que se liberta durante as relações sexuais, mas os efeitos desta hormona vão muito mais além. É a responsável pela relação mãe e filhos, da confiança e, segundo um novo estudo publicado na Science, o que provoca a coesão de grupos, protegendo-os contra ameaças externas.



 Imagem mostra a complexidade da oxitocina
 
 No entanto, uma equipa do departamento de Psicologia da Universidade de Amesterdão, na Holanda, já constatou que a oxitocina está por detrás deste altruísmo paroquial.  
Esta hormona é produzida na presença de estímulos agradáveis como comer ou ter relações sexuais. Além da sua função no parto e pós-parto, a oxitocina está associada a uma maior capacidade empática e generosa. Quanto administrada de forma exógena, “promove a confiança, a cooperação e reduz a hipótese de beneficiar do outro”, explicam os autores no artigo.
Dentro de uma colectividade, a oxitocina funciona para preservar, defender e fortalecer laços, indirectamente enfraquecendo os adversários.


Para testar a descoberta, dezenas de jovens foram chamados para resolver versões do dilema do prisioneiro. Meia hora antes da prova, metade dos participantes cheiraram uma quantidade de oxitocina e os restantes uma substância inócua.                                                  

Dividiram os jovens em três grupos e cada indivíduo tinha de escolher o melhor modo de mover dinheiro. Os mais altruístas foram os que cheiraram o neuro-modulador, que distribuíram o dinheiro na procura do benefício dos companheiros de grupo e não de si próprios.

Alguns investigadores relacionaram este altruísmo paroquial com o terrorismo e a guerra, já que, como sugerem os resultados, “poderia existir uma base biológica para pensar que o altruísmo e a agressão estão mais próximos do que se tinha pensado”, indica ainda um artigo que acompanha a investigação.

“A mensagem importante é que a oxitocina não só promove a generosidade, a benevolência e a confiança”, explica Carsten De Dreu, especialista em Psicologia. “É ainda determinante para tornar os grupos coesos e a chave de defesa dos mesmos”, acrescenta do autor do estudo.


Saiba mais sobre a origem do teste executado pelos voluntários do estudo:

Dilema do prisioneiro (versão clássica)

Dois suspeitos, A e B, são presos pela polícia. A polícia tem provas insuficientes para os condenar, mas, separando os prisioneiros, oferece a ambos o mesmo acordo: se um dos prisioneiros, confessando, testemunhar contra o outro e esse outro permanecer em silêncio, o que confessou sai livre enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos de sentença. Se ambos ficarem em silêncio, a polícia só pode condená-los a 6 meses de cadeia cada um. Se ambos traírem o colega, cada um leva 5 anos de cadeia. Cada prisioneiro faz a sua decisão sem saber que a decisão que o outro vai tomar, e nenhum tem certeza da decisão do outro.

in, Ciência Hoje

16 de junho de 2010

Investigadores relacionam consumo de arroz branco com diabetes tipo 2


  Consumir arroz branco frequentemente favorece o aparecimento de diabetes tipo 2, enquanto o risco de adquirir esta  doença é reduzido com o consumo de arroz integral, indica um estudo americano publicado ontem no Archives of Internal Medicine.  Investigadores da Harvard School of Public Health acompanharam o consumo de arroz branco e integral de 157463 mulheres e 39765 homens, que foram seguidos em três estudos diferentes durante mais de 14 anos.

Verificaram então que as pessoas que consumiam arroz branco cinco vezes por semana tinham 17 por cento de hipóteses acrescidas de desenvolver diabetes tipo 2 relativamente àquelas que o comiam uma vez por semana apenas.

"Nós acreditamos que substituir o arroz branco e outros grãos refinados por grãos integrais, como o arroz integral, ajuda a reduzir o risco de diabetes tipo 2", disse o autor do estudo, Qi Sun, tendo em conta que mais de 70 por cento do arroz consumido nos Estados Unidos é branco.

"Há séculos que o arroz é um alimento de base nos países asiáticos", referem, acrescentando que “desde o século XX, os progressos feitos nas tecnologias do tratamento do cereal possibilitaram uma produção em massa de cereais refinados. Durante este processo, a casca do grão, assim como as partes intactas do gérmen, são retiradas para produzir arroz branco que, de facto, consiste num endospermo cheio de amido".

in  Ciência Hoje

5 de junho de 2010

Ao contrário de Nurse Jackie

   

   A infidelidade feminina é mais grave e definitiva, não porque seja moralmente mais condenável, mas porque é mais sintomática.
   Um homem pode ser infiel à sua mulher e, porém, amá-la incondicionalmente.
   Uma mulher infiel já não ama o seu marido.


As vezes digo, entre amigos: "A infidelidade feminina é mui­to mais grave e definitiva do que a masculina» - e de ime­diato me caem em cima o Carmo, a Trindade e o obelisco do Cutileiro, objecto ainda por cima assaz percutante. As primeiras a protestar são as senhoras: que diabo é isso, no século XXI, és um quadrado, vai dar banho ao cão. Os segundos são os homens sedutores, de repente urgentes de capitalizar a minha falta: era o que faltava, nem pensar, os direitos são iguais e os deveres tam­bém, eu ao sábado aspiro a casa e tudo. E os terceiros, com excepção de um ou outro abençoado que faz um esforço por divisar o que estou a tentar estabelecer, são todos ao mesmo tempo: mas porque é que uma infidelidade é pior do que a outra, se em qualquer dos casos consiste numa traição, ao outro e a nós próprios, se não mesmo a todo o género humano?
Acho curioso que tantos concebam que um dilema de tal forma fundador para a espécie possa ser desvendado com base apenas nos preceitos da Constituição da República. E acho mais curioso ainda que muitos daqueles que conseguem, enfim, abstrair-se da esfera banal dos direitos e dos deveres não cheguem nunca a transcender o âmbito da moral. Porque aquilo de que estou a falar não é um problema político, nem sequer social: é emo­cional mesmo. A infidelidade feminina é mais grave e definitiva, não porque seja moralmente mais condenável do que a masculina (são ambas moralmente muito condenáveis, tanto quanto me parece), mas porque é mais sintomática. Diz uma velha frase de t-shirt que, para cometer uma infidelidade, a mulher precisa de um motivo, enquanto o homem só precisa de uma mulher. E eu próprio lhe chamaria "um tre­mendíssimo cliché», se não se desse a circunstância de, regra geral (que é o que interessa para este tipo de generalização exaltada), ser absolu­tamente verdade.
Eu podia dar o exemplo da biologia (e não há nada mais poderoso do que a biologia): ao contrário do homem, uma mulher pode engra­vidar de outro e dar ao esposo, sem que ele sequer chegue a sabê-lo, um filho que não é dele. Só isso já desequilibra os pratos da balança. Mas nem sequer é preciso irmos tão longe. Um casamento pode sobreviver a um homem infiel e pode sobreviver a uma mulher infiel também. Um casamento são duas pessoas que estão juntas e, felizmente, as razões por que as pessoas estão juntas não se reduzem ao sentimento. Coisa diferente, porém, é o amor propriamente dito. Um homem pode ser infiel à sua mulher e, no entanto, amá-la eterna e incondicionalmente. Uma mulher infiel simplesmente já não ama o seu marido. Pode gostar dele. Pode ter pena dele. Pode estimar a vida que os dois têm juntos: as rotinas, os objectos, os lugares, os cheiros, as pessoas. Mas pode vi­ver sem eles também  e sabe-o. Porque, sendo tão capaz como o homem de ausentar-se do seu corpo, não será capaz nunca de ausentar-se das suas emoções. E porque, se o fizer, já não encon­trará o caminho de regresso.
A infidelidade feminina é mais grave e sinto­mática porque (e perdoem-me o recurso new age, juro que não se repete) a mulher tem mais inteligência emocional do que o homem. Porque tem mais auto-domínio, talvez, mas sobre­tudo porque tem outra capacidade de ver o big picture e de agir em prol da sua preservação. As mulheres são mais calculistas. Os homens mais românticos. De resto, e que todos somos dotados da mesma natureza poligâmica, nem sequer discuto. Que infidelidade e traição nem sempre são uma e a mesma coisa, menos ainda. O que sei é: se os homens lidam muito pior com a traição, há uma razão muito clara para isso. Os homens são inseguros. Mas são-no precisamente porque sabem que, no dia em que foram traídos, todo o seu mundo ruiu. O melhor mesmo é não desco­brir nunca. Assim como assim, nós nunca tivemos a presunção de saber tudo  e, desde que também não desconfiemos, felizes viveremos com a nossa ignorância.

In 'Noticias Sábado' 230 por Joel Neto

10 de abril de 2010

Os Kidadults




Este ano faço 40 anos. Para mim a palavra obrar significa fazer cocó, mais nada. Não tenho um único amigo que considere um obreiro, um esforçado, um empreendedor, acho a minha geração uma caca de geração sem força. Um achismo como qualquer outro, sujeito ao vosso juízo, mas esta gaja hoje está parva? Estou. Devo estar. E também estou a passar por uma segunda adolescência brava e só vejo malucos e maluquice à minha volta, vamos lá a acordar ou andamos todos aqui aparvalhados da fluoxetina?
Indo um bocado mais longe, acho que somos toda uma cambada de fodidinhos da cabeça. Eu sei que isto não é bonito de se dizer, mas deixem lá a cerimónia e o respeito um bocadinho e oiçam. A nós venderam-nos gato por lebre, umas ideias malucas, malucas, malucas.
Em 1982 isto ia ser tudo paletes de felicidade e esperança e guito, guito, muito guito a entrar pelas fronteiras e pelas estradas, guito que hoje não há a recompensar trabalho que também não há. O meu pai até comprou um Citroen GSA PalIas que subia a carroçaria quando se ligava. Um luxo, acreditei que quando chegasse a minha altura o meu carro ia voar. O meu carro hoje não voa, mas também não fui eu que o comprei. Herdei-o. A minha tia, da geração anterior à minha e que se fartou de bulir, morreu, em seis meses, com um cancro.
Hoje um engenheiro recém - formado no Rio ganha três vezes mais que o parvo do tuga explorado. Isto é uma desgraça um paizinho de merda. Como é uma desgraça vivermos quase todos com mil euros por mês, depois de nos terem enchido os ouvidos com inanidades deste calibre, Mónica Maria, homens e mulheres são iguais, aprende e vive com isto. Onde é que já se viu tamanha palermice? Só na cabeça dos nossos pais. Perguntem a um norueguês, hoje com 40 anos, o tipo de mulher que esta brincadeira produziu. E ele mostrar­-lhes uma mulher - homem que não sabe ser mulher - mulher, toda tonta e com carta de pesados.
Foi - nos vendido um sonho de consumo totalmente irreal, criaram em nós expectativas, que agora, chegados aos 40, estamos fartos de saber que não podem ser realizadas, esta merda não está a bater certo para quem cresceu a ver os desenhos animados búlgaros, do Vasco Granja, nem para quem aprendeu a votar, de braço no ar, as tropelias dos amigos, no Externato Fernão Mendes Pinto. Somos uns meninos mimados, os filhos do centrão e dos centros comerciais maiores da Europa, das viagens a Espanha no Verão, sem ter de passar pelas apalpadeiras na fronteira do Caia, os meninos que viram aparecer as primeiras televisões a cores, os primeiros vídeos e aquelas iogurteiras que ao fim de um mês perdiam o uso porque faziam os piores iogurtes do mundo. Não, talvez o pior fosse aquele que crescia de uma nhanha de uma planta romena, tipo fungo. Também comi. E agora gosto de homens com barba de três dias e só me sinto bem quando faço bigodinhos de Hitler, na depilação. Tive sempre bolachas em casa, queijo flamengo, Nesquik, papa Cerelac, Pensal de Chocolate e Nestum Figos e Mel. Tomei óleo de fígado de bacalhau, tinha discos do Sérgio Godinho, do Chico Buarque, dos Bee Gees e do Fernão Capelo Gaivota. Bebia Coca-Cola, jogava ténis no CIF e tinha semanada. Os meus pais foram disfuncionais q. b., mas ainda falo com eles e gosto dos dois, usei farda no colégio, meias azul-escuras até ao joelho Lolita sexy, andei muito com saias kilt que picavam e de gola alta, igualzinha ao meu irmão. Aprendi a viver no meio, na zona cinzenta, à espera que tudo viesse ter comigo. E vem.
A gente esforça-se mas esforça-se pouco. A gente luta, mas luta pouco, a gente quer tudo, porque sempre teve tudo, mas não tem os guts. Estamos cansados do sonho da treta europeia, queremos ser fazendeiros no Facebook usar cuecas boxer do Scooby-Doo, comprar uns Ali Star amarelos aos 39 anos e que nos deixem em paz, adulthood has lost its appeal. Antigamente as pessoas queriam crescer e sair de casa e casavam com energúmenos e energúmenas só por causa disso.
Hoje já ninguém quer ser polícia ou bombeiro. Muito menos tem vontade de casar ou sequer acreditar que o amor pode vir com o tempo e em formas desconhecidas e nem sempre imediatamente compensadoras. Quando tinha 15 anos li, em casa da minha melhor amiga, na revista Sputnik que uma camponesa da parvónia russa se estudasse poderia transformar-se numa grande astronauta. Faço tudo para voltar a acreditar numa merda destas. Por falar nisso, Teresa, eu perdia à canasta e ao king só para tu não amuares. 
Mónica Marques é escritora. Autor do blogue Sushi Leblon, publicou o livro Transa Atlântica
e publicou esta crónica no suplemento do i “nós 49”

7 de abril de 2010

Bons professores e regras morais contra a sociedade liquefeita

Disseram que as normas impostas traumatizavam os meninos. Criaram-se pequenos monstros.
Getty Image







Há 50 anos nasceu a pedagogia segundo a qual não se deviam impor regras às crianças, apenas dar-lhes indicações. Foi um descalabro, a sociedade liquefez-se. É preciso reconstruí-la.
 Os sociólogos estão sempre a repetir-nos que o nosso sistema social está cada vez mais desestruturado. Passámos da sociedade industrial para a pós-industrial, depois para a pós-moderna e por fim para a sociedade que Bauman designa por líquida, por não ter regras nem laços fortes. Contudo, para mim, as fases de desestruturação são seguidas de fases de reconstrução, e essa nova fase reconstrutiva já começou. Vejamos o campo do ensino. Há 50 anos, do encontro entre Dewey, a psicanálise e o vulgar marxismo, nasceu uma pedagogia segundo a qual não devem impor-se regras, mas apenas dar indicações. As crianças não devem decorar a tabuada, poemas, nomes das terras, datas da história, não devem estudar gramática nem análise lógica. Também não devem aceitar a autoridade dos pais e dos professores. Esses pedagogos achavam que, se o indivíduo fosse mais livre para criar, o florescimento cultural seria assombroso. Pelo contrário, gerou-se um vazio que foi preenchido pela cultura mediática.

As crianças não sabem poemas mas conhecem canções, não seguem os mandamentos morais, mas sim "o que dizem os colegas", não conhecem os clássicos, mas sabe o que dizem as personagens televisivas. Na verdade, a pedagogia que nivela tudo por baixo no intuito de esbater as diferenças teve como consequência tornar ignorantes milhões de pessoas e privilegiar aqueles que podiam ir para a universidade e para escolas de excelência com professores respeitados e programas rigorosos. É por essa razão que há cada vez mais pessoas a quererem uma escola mais séria, mais rigorosa, com professores preparados e mais respeitados. Mas também começam a perceber que é essencial que existam normas morais básicas interiorizadas, aprendidas até ao fim da infância.

Não se deve esperar que as crianças aprendam sozinhas que não devem roubar ou atormentar os colegas. Temos de as ensinar e fazer com que isso lhes fique gravado na mente, se torne um hábito. Por fim, também estamos a perceber que a nossa ordem social se baseia num mandamento fundamental: "Faz ao outro o que gostarias que ele te fizesse a ti." É um mandamento que não pode ser demonstrado com um cálculo custo-benefício. Ou se aceita ou não. Em 50 anos, passámos do autoritarismo mais cego à anarquia mais completa, da sociedade mais rígida à sociedade mais fragmentada, liquefeita. Mas ignorar ou contornar a liquefacção não basta; é preciso iniciar a reconstrução.
por Francesco Alberoni, Publicado em 06 de Abril de 2010 no jornal i
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