31 de dezembro de 2010

OS VENCIDOS DA VIDA

  

     O Exmo. Sr. Doutor Mário Soares, disse à dias numa entrevista à Revista Visão que:

-" Irritam-me os portugueses que se comprazem em dizer mal de Portugal. Esta moda, snobe, vem desde os Vencidos da Vida, uma tertúlia chique, criada em finais do século XIX".

        Uma observação desta natureza só podia ser orquestrada por Sua Exa. o Ex/Presidente da República   ( por acaso do PS), Ex/Primeiro-Ministro (por acaso do PS), Ex/Deputado Europeu (por acaso do PS), Presidente da Fundação Mário Soares (gostava de saber para que é que serve a Fundação). Esta 'Máxima' relembramos aos menos atentos, foi, dizia eu, orquestrada por acaso (???) durante um Governo (???) PS.

Permita-me Sr. Doutor, mas o Senhor está a fazer confusão entre o olho do cu (ânus) e a Feira de Beja.
São pouquíssimos os Portugueses (não conheço algum e conheço muita gente) que se comprazem a dizer mal de Portugal, regra geral (daí talvez a sua confusão) dizem mal, muito mal, dos tiranos que tem administrado a Nação, em especial nos últimos trinta anos ( onde V. Exa. se inclui). 'Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado'  e não é, nunca foi, nem há-de ser com Dantas como o Sr. e os seus 'camaradas'. Os factos atestam o que escrevo e como se não bastasse até alguns dos seus 'amigos' vieram lembrar-nos as 'Nódoas' que proliferam no 'Pano Luso':
-"A Justiça é a mais lamentável nódoa da Sociedade Portuguesa", António Barreto (por acaso foi ou é do PS) in, Diário de Notícias 29.12.2210; é a mais, diz aquele sociólogo, subentende-se mais nódoas. Claro que serão poucos a dar crédito àquilo que V. Exa. de vez em quando se lembra de argumentar, até porque todos (ou quase todos) reconhecem o Sr. como um "Grande Artista" a começar pela sua casa. Sua Digníssima esposa numa entrevista ao Jornal de Negócios disse:
- " Qual é o Presidente da República que não é actor? Todos os políticos têm de representar", Maria Barroso, antiga primeira-dama in Jornal de Negócios.
  Quem tem telhados de vidro, não devia atirar pedras aos telhados dos outros.
  Quando será que o Sr. Doutor segue o exemplo de um outro seu 'Grande Amigo' e nos deixa em paz?

28 de dezembro de 2010

Em que país eles vivem?

 À minha volta vejo vidas adiadas e carreiras desmoronadas. Depois leio o que por aí se escreve sobre um povo que não sabe viver com o sacrifício e pergunto-me: em que país vivem os nossos colunistas? 

Em frente a mim, um amigo com uma longa carreira almoça. Percebo que não o faz há dias. Demasiado novo para se reformar, demasiado velho para começar de novo, vive no limiar da sobrevivência. Mantém-se bem vestido para tratar das aparências. Tenta manter aquela dignidade que sempre me mereceu admiração.
No chat, converso com um amigo emigrado. Excelente no que faz, quando chegou a Lisboa parecia que a sua carreira não encontraria grandes entraves. Até que, cansado de viver de recibos verdes mal pagos em ateliers que tratam o talento como coisa irrelevante, decidiu partir. Sem nada que o esperasse no destino. Lá se está a safar. Mas, apesar disso, quer saber como isto vai porque ainda não perdeu a esperança de voltar.
Olho em volta e vejo os meus amigos mais promissores a dar aulas em universidades estrangeiras, com condições que aqui seriam virtualmente impossíveis. Outros a trabalhar em call-centers ou a viver de biscates, com as suas vidas adiadas para sempre. Vejo os pais deles a carregarem até à velhice o fardo de garantirem a sua sobrevivência. E a dos netos, quando os filhos tiveram coragem para tanto.
Diariamente cruzo-me com a angústia de vidas impossíveis, onde tudo é contado. De trabalhadores menos qualificados aos melhores quadros que o nosso sistema de ensino produziu. Tanto desperdício de talento que perco a esperança neste país.
Isto é o que vejo. Depois leio textos de colunistas e economistas. Vivemos acima das nossas possibilidades. Habituámos-nos ao bem bom. Perdemos a ética do trabalho. Já não sabemos o que é o sacrifício. Fico agoniado e assalta-me uma dúvida: sou eu que conheço demasiados azarados ou esta gente que escreve nos jornais e fala na televisão vive num País diferente do meu? 

Por Daniel Oliveira in Expresso On-Line 

27 de dezembro de 2010

Natal de 1971 (e de agora), Jorge de Sena

Natal de quê? De quem?                                         
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Ou de quem traz às costas
as cinzas de milhões?
Natal de paz agora
nesta terra de sangue?
Natal de liberdade
num mundo de oprimidos?
Natal de uma justiça
roubada sempre a todos?
Natal de ser-se igual
em ser-se concebido,
em de um ventre nascer-se,
em por de amor sofrer-se,
em de morte morrer-se,
e de ser-se esquecido?                                       
Natal de caridade,
quando a fome ainda mata?
Natal de qual esperança
num mundo todo bombas?
Natal de honesta fé,
com gente que é traição,
vil ódio, mesquinhez,
e até Natal de amor?
Natal de quê? De quem?                       
Daqueles que o não têm,
ou dos que olhando ao longe                                                    
sonham de humana vida
um mundo que não há?
Ou dos que se torturam
e torturados são
na crença de que os homens
devem estender-se a mão?

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