14 de agosto de 2011

Discurso do índio mexicano Guaicaipuro Cautémoc diante de uma plateia de autoridades Europeias por ocasião das comemorações dos quinhentos anos da descoberta da América

"Aqui estou eu, descendente dos que povoaram a América há 40 mil anos, para encontrar os que a "descobriram" há 500... O irmão europeu da alfândega pediu-me um papel escrito, um visto, para poder descobrir os que me descobriram. O irmão financeiro europeu pede ao meu país o pagamento, com juros, de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei que me vendesse. Outro irmão europeu explica-me que toda a dívida se paga com juros, mesmo que para isso sejam vendidos seres humanos e países inteiros, sem lhes pedir consentimento. Eu também posso reclamar pagamento e juros.
Consta no "Arquivo da Companhia das Índias Ocidentais" que, somente entre os anos de 1503 a 1660, chegaram a São Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América. · Teria aquilo sido um saque? Não acredito, porque seria pensar que os irmãos cristãos faltaram ao sétimo mandamento! · Teria sido espoliação? Guarda-me Tanatzin de me convencer que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue do irmão. · Teria sido genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomeu de Las Casas ou Arturo Uslar Pietri, que afirmam que a arrancada do capitalismo e a actual civilização europeia se devem à inundação dos metais preciosos tirados das Américas. · Não, esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata foram o primeiro de tantos empréstimos amigáveis da América destinados ao desenvolvimento da Europa. O contrário disso seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito a exigir não apenas a devolução, mas uma indemnização por perdas e danos. · Prefiro pensar na hipótese menos ofensiva. ·
Tão fabulosa exportação de capitais não foi mais do que o início de um plano "MARSHALL MONTEZUMA", para garantir a reconstrução da Europa arruinada por suas deploráveis guerras contra os muçulmanos, criadores da álgebra e de outras conquistas da civilização. · Para celebrar o quinto centenário desse empréstimo, podemos perguntar: Os irmãos europeus fizeram uso racional responsável ou pelo menos produtivo desses fundos? · Não. No aspecto estratégico, deslapidaram-nos nas batalhas de Lepanto, em navios invencíveis, em terceiros reichs e várias outras formas de extermínio mútuo. · No aspecto financeiro, foram incapazes - depois de uma moratória de 500 anos - tanto de amortizar capital e juros, como de se tornarem independentes das rendas líquidas, das matérias-primas e da energia barata que lhes exporta e provê todo o Terceiro Mundo.
Este quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman, segundo a qual uma economia subsidiada jamais pode funcionar, o que nos obriga a reclamar-lhes, para seu próprio bem, o pagamento do capital e dos juros que, tão generosamente, temos demorado todos estes séculos para cobrar. Ao dizer isto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar de nossos irmãos europeus, as mesmas vis e sanguinárias taxas de 20% e até 30% de juros ao ano que os irmãos europeus cobram dos povos do Terceiro Mundo. · Limitar-nos-emos a exigir a devolução dos metais preciosos, acrescida de um módico juro de 10%, acumulado apenas durante os últimos 300 anos, concedendo-lhes 200 anos de bónus. Feitas as contas a partir desta base e aplicando a fórmula europeia de juros compostos, concluímos, e disso informamos os nossos descobridores, que nos devem não os 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, mas aqueles valores elevados à potência de 300, número para cuja expressão total será necessário expandir o planeta Terra. · Muito peso em ouro e prata... quanto pesariam se calculados em sangue?
Admitir que a Europa, em meio milénio, não conseguiu gerar riquezas suficientes para estes módicos juros, seria admitir o seu absoluto fracasso financeiro e a demência e irracionalidade dos conceitos capitalistas. · Tais questões metafísicas, desde já, não nos inquietam a nós, índios da América. Porém, exigimos a assinatura de uma carta de intenções que enquadre os povos devedores do Velho Continente na obrigação do pagamento da dívida, sob pena de privatização ou conversão da Europa, de forma tal, que seja possível um processo de entrega de terras, como primeira prestação de dívida histórica.

2 comentários:

maria jose disse...

Não é raro receber emeios com textos e imagens que tecem loas à Europa, civilizada, limpa, educada, tão superior em contraponto às nossas mazelas... Respondo com a mesma cobrança que faz Guaicaipuro Cuautémoc - devolvam, senhores hipócritas, ao menos parte dos que nos roubaram, e a gente mostra como se faz! Como fazer muito melhor que esses europeus egoístas, genocidas (são incansáveis em sua ganância pelas riquezas alheias, não?, haja vista o que segue ocorrendo no Oriente Médio)
Maria

FernandoPPereira disse...

A Europa não tem que devolver parte, a Europa deveria devolver TUDO e com juros. A Europa não é limpa, civilizada ou educada. A Europa foi, é e infelizmente será Suja,incivilizada e tem um défice de educação comparável ao pior período da idade média. Não é por acaso que a Europa foi protagonista das maiores barbáries que o Mundo conheceu e em simultâneo das maiores carnificinas e extermínio de povos. Agora o que a Europa tem é sem dúvida a melhor maquilhagem de sempre do Mundo contemporâneo. A Europa está em todos os conflitos mundiais ao lado do seu 'dono' os Estados Unidos, numa incansável e descomunal pilhagem. A Europa já não tem Líderes (se é que alguma vez os teve) para fazer frente a esta ofensiva mundial de saquear os mais fracos. A Europa está a desmoronar-se. Quem diz isto não é um Asiático, um Africano ou um Sul-Americano, quem diz isto é um europeu (sem orgulho de o ser)nascido em Portugal.
Fernando Alberto

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