Já nascemos envolvidos em mentiras. Desde cedo nos acostumam.
Bicho-papão, homem de areia, ladrões de crianças, figuras utilizadas para
controlar crianças pequenas através do medo – táctica que se estende por
toda a vida, mudando as formas. Imagens falsas, como o coelho que dá
ovos de chocolate, ou a figura da maldade e indiferença ao sofrimento em
nossa sociedade, a do pai-natal, excrescência vestida com as cores da
Coca-cola que induz ao consumo compulsivo, ...
na época do Natal – outra mentira, esta da igreja cristã, para fazer
frente às festas do solstício, no norte da Europa -, ensinando a fazer o
bem por interesse nos prémios e evitar o mal por medo do “castigo”, em
franco egoísmo.
Como fazem as igrejas cristãs, sem nenhuma preocupação real com o
próximo (falo apenas das instituições), além da teoria – ou diriam aos
ricos que se contentassem em ser menos ricos para que não houvesse
abandonados e explorados na sociedade.
São aceites como naturais os abismos sociais - económico,
educacional, informacional, de cidadania e dignidade, de direitos e
oportunidades. Amarga mentira. Esses abismos são artificiais,
construídos a partir de cima, para permanecer por cima. Por cima mesmo
dos governos, da política e da media, que constrói com a maior
competência as mentiras nas quais acreditamos. A população precisa
acreditar, para se deixar conduzir a sustentar e manter todo esse
esquema perverso contra si mesma.
Porque é a população quem sustenta com os impostos e trabalho, quem
constrói ruas, prédios e calçadas, quem instala, carrega, levanta,
derruba, atende, transporta, serve, limpa, cozinha, desentope, manobra,
conserta e põe a mão na massa. E é explorada e desprezada, em nossa
estrutura social. Roubada em seus direitos básicos e conduzida a desejos
de consumos e privilégios superficiais, alienada e narcotizada pela media. A parte mais indispensável, mais necessária à sociedade, é exactamente a mais maltratada, a mais perseguida, a mais explorada. E em
caso de inconformação, reprimida com desrespeito e violência. Não são
claros os motivos de tanta mentira? Sem ricos, a sociedade poderia ser
menos injusta. Sem pobres, seria impossível. São eles a base de apoio.
Impede-se o desenvolvimento do espírito humano, pois ameaçaria o
controle dos poucos dominantes sobre a sociedade. E as hipocrisias
seguem, junto com a vida. A maior parte das pessoas, abestalhada entre
os entretenimentos e os desejos de consumo, tem sua atenção conduzida
pela media para longe da política – apresentada como um mundo
incompreensível entre a falcatrua de muitos e o heroísmo duvidoso de
poucos, a hipocrisia de muitos e a honestidade de poucos -, com algo de
repulsivo, criando um clima de assunto chato, incómodo, repetitivo, no
qual é desagradável pensar.
Não é à toa. Nesse mundo, o político, se manobram as marionetas do
poder, se articulam os interesses das grandes empresas, se negocia com o património público. O poder económico local (industriais,
latifundiários e outros empresários "de peso"), sócio menor e servidor
de gigantescas transnacionais estrangeiras e nativas, controla o aparato
público, as instituições, infiltra-se no Estado através das forças
políticas, compradas com financiamentos de campanhas. A partir daí, se
espalha nos poderes da república em variadas relações, no judiciário,
nas estatais, nos serviços públicos, nas empresas prestadoras de
serviços. A coisa pública, os bens públicos, o dinheiro público,
controlados por interesses privados, fazendo fachada de democracia - só
se for a "cracia do demo". Esse é o mundo dos crimes contra a
humanidade, do roubo dos direitos básicos à maioria da população para
privilegiar essa minoria de serviçais de luxo - que fazem pose de
"superiores"- e gerar ganhos além da nossa imaginação para os
pouquíssimos realmente poderosos – acima até dos Estados nacionais, a
ponto de controlar as políticas públicas. Os povos precisam estar de
alguma forma narcotizados, precisam ser ignorantes, desinformados,
enganados, para se deixarem conduzir. Simples. Destrói-se o ensino
público, controla-se o ensino particular, domina-se a media e o trabalho
está feito. Fácil, quando se tem o governo, legisladores, altos postos
do judiciário e a media na mão. E a garantia das forças de segurança,
públicas e privadas.
Dizem que o mundo é uma guerra, a vida é uma competição e que todos
são adversários, em suas áreas. Mentira. Somos irmãos seguindo a
aventura da vida, nos desenvolvendo e procurando formas de resolver
nossos problemas, solidariamente. Somos gregários, precisamos de
harmonia, não de competição. A media é que nos instiga uns contra os
outros, com a ideia furada de “vencedor” e “perdedor”. Nossa união
apavora seus patrões. E a eficiência é tanta que mesmo entre os que se
dizem revolucionários se vêem esses padrões de comportamentos e valores.
Passar da competição à cooperação é um degrau da evolução humana.
Dizem que felicidade é consumir, é desfrutar e usufruir de luxo e
fartura. Mentira. O mais próximo de felicidade que temos é gostar e ser
gostado, é abraçar e ser abraçado, é se sentir útil à colectividade, é
beneficiar os demais e confraternizar com todos, aprender e ensinar,
ajudar e ser ajudado. A media nos induz ao consumo egoísta, ao
isolamento, condiciona o valor de ser humano à posse, ao poder económico, ao nível de consumo, e as pessoas se sentem inferiorizadas ou
superiorizadas, conforme esses padrões, se envergonham ou se orgulham
por esses factores externos. Induções. Os valores reais são abstractos,
estão no ser, não no ter.
É o consentimento geral o que sustenta essa estrutura. A crença nas
mentiras plantadas. Acreditamos e reforçamos as correntes da nossa
própria escravidão. Cada um de nós consente, em maior ou menor grau,
esse estado de coisas. Cada um de nós pode começar o trabalho em si
mesmo, que vai encontrar o que fazer, se for sincero consigo e tiver
humildade para encarar as próprias falhas e condicionamentos. De dentro
de si é que o trabalho de mudança externa ganha força, na profundidade
das raízes, da sinceridade do sentimento. Pois é do trabalho interno que
emanará a força avassaladora de uma verdadeira revolução. Cada
revolucionário precisa começar o seu trabalho em si mesmo. Ou será mais
um desses superficiais e arrogantes, intolerante e conflituoso, pronto a
usar os recursos convencionais dessa estrutura doente, ou apenas
reforçará a imagem do revolucionário chato, incómodo e indesejável.
Ninguém pode se dizer isento de induções inconscientes. Desde
pequenos recebemos cargas maciças de publicidade – televisão, rádio, outdoors, folhetos, jornais, revistas, nos autocarros, trens, barcas, metros, nos telefones, em cartazes pela rua, na repetição dos refrões
das propagandas. E dali não vêm apenas produtos e desejos de consumos.
Embutidos, estão valores sociais e pessoais, objectivos de vida e
esperanças, criminosas mentiras detalhadamente preparadas pelas empresas
(publicitários e até psicólogos, sociólogos, pedagogos e
advogados) e implantados pela media.
Cabe a nós destruir essas correntes, desacreditando-as dentro de nós
mesmos e, a partir daí, contagiar à nossa volta, até onde pudermos
alcançar. Nós, os que enxergam as correntes, os que não acompanham o
gado e não se deixam enganar tanto, os que nos debatemos contra as
pressões e lutamos por uma sociedade menos injusta, menos perversa e
menos suicida. E mais humana, mais solidária, mais cuidadosa e sincera
com todos os seus membros. Enfim, uma sociedade livre das garras de
elites, ao serviço de todos.
Eduardo Marinho
http://www.observareabsorver.blogspot.com/
e
http://www.oarquivo.com.br/
30 de setembro de 2011
29 de setembro de 2011
27 de setembro de 2011
26 de setembro de 2011
O Lado Negro do Chocolate / The Dark Side of Chocolate
Será que o chocolate que consumimos é produzido com o uso de trabalho infantil e
tráfico de crianças? O premiado jornalista dinamarquês, Miki Mistrati,
decidiu investigar os boatos. Sua busca atrás de respostas o levou até ao
Mali, na África Ocidental, onde com câmaras ocultas se revelou o tráfico de
crianças para as plantações de cacau da vizinha Costa do Marfim. A Costa
do Marfim é o maior produtor de cacau, respondendo por cerca de 40% da
produção mundial. Empresas como a Nestlé, Barry Callebaut e Mars
assinaram em 2001 o Protocolo do Cacau, comprometendo-se a erradicar
totalmente o trabalho infantil no sector até 2008. Será que o seu
chocolate tem um gosto amargo? Vamos acompanhar Miki até África para expor "O
Lado Negro do Chocolate".
21 de setembro de 2011
Santa Casa, quem peca contra ti? Ou, "Prefiro o Mal Menor"
Hoje em dia já são poucas as notícias que me sobressaltam, quando acordo penso que me sinto preparado (no mínimo) para me confrontar com o mundo tirânico, em especial o português, que surge em destaque na imprensa escrita.
Mas hoje foi excepção ou talvez não. Leio no Jornal i «"Governo mete Euromilhões no Orçamento do Estado", Santa Casa da Misericórdia de Lisboa vai ser nacionalizada já em 2012».
Ainda me custa a crer, mas dos 'poderosos' que se instalaram em Portugal espero o pior. Parece que esta iniciativa de um governo tirânico agrada à esquerda, o que também já não me admira, chamar esquerda a esta esquerda, equivale a chamar a um penico, um alguidar.
Sei que os ladrões estão em todo o lado, obviamente a Santa Casa não será excepção, mas retirar a esta Instituição as verbas dos chamados 'jogos de azar' será retirar o pão a milhares de portugueses cuja fome é evitada pelas centenas de associações de cariz social que se espalham por todo o lado graças à Organização da Santa Casa e dos seus jogos. Acredito que muita gente na Santa Casa tenha de tudo menos de Santo, só que nesta Organização existe muita gente boa que com essas verbas matam a fome a milhares de Portugueses.
O Estado composto de tudo, menos de gente boa, onde fareja dinheiro saqueia, em nome de uma organização que mais não faz do que exterminar Nações explorando seus povos e riquezas naturais até à exaustão. Um governo que deixa seus cidadãos morrerem à fome, que retira das crianças bens essenciais, que expropria um povo da sua água, que coloca hospitais nas mãos de capitalistas sedentos pela ganância nunca será um governo que se preocupará com os miseráveis, logo a Santa Casa sem verbas colocará nas ruas milhares e milhares de sem abrigo. Assim se vê a grandeza de uma Nação, estes gajos perderam toda a vergonha, de cu virado para o FMI expropriam gerações de portugueses privatizando tudo. Vou ter de citar Saramago:
À noite eu penso nos miseráveis e em suas crianças
Na fome de três dias sem comer
Na fome que dói no osso
Na fome que se agarra mórbida nos braços de Jesus
Na angústia muda e petrificada que ninguém ouve
À noite eu penso neles como ratos
espremidos todos num único quarto
Noite quente, pavorosa sob a telha fervente
O suor escorre, o sangue escorre,
A dignidade – se já houve um dia – escorre pelo ralo
entupido de merda mole
À noite eu penso neles como cães
Roendo ossos, cozinhando bofes, lambendo tripas
com seus dentes todos podres e suas bocas cheias de feridas
Sem a esperançosa visão da luz no fim do túnel
ou mesmo a tão propalada misericórdia do Deus omnisciente
À noite eu vejo a mãe em completo desespero
sem ter o que dar de comer para sua prole proletária
Todos eles pequenos e frágeis e feios
Morrendo aos poucos em silêncio.
Enquanto isso, nos palácios, as princesas jogam fora aquele vestido
cujo único defeito é uma pequena e imperceptível
mancha de sorvete de baunilha que ali caiu no réveillon em Búzios
no ano passado.
De: Guto Capucho
Mas hoje foi excepção ou talvez não. Leio no Jornal i «"Governo mete Euromilhões no Orçamento do Estado", Santa Casa da Misericórdia de Lisboa vai ser nacionalizada já em 2012».
Ainda me custa a crer, mas dos 'poderosos' que se instalaram em Portugal espero o pior. Parece que esta iniciativa de um governo tirânico agrada à esquerda, o que também já não me admira, chamar esquerda a esta esquerda, equivale a chamar a um penico, um alguidar.
Sei que os ladrões estão em todo o lado, obviamente a Santa Casa não será excepção, mas retirar a esta Instituição as verbas dos chamados 'jogos de azar' será retirar o pão a milhares de portugueses cuja fome é evitada pelas centenas de associações de cariz social que se espalham por todo o lado graças à Organização da Santa Casa e dos seus jogos. Acredito que muita gente na Santa Casa tenha de tudo menos de Santo, só que nesta Organização existe muita gente boa que com essas verbas matam a fome a milhares de Portugueses.
O Estado composto de tudo, menos de gente boa, onde fareja dinheiro saqueia, em nome de uma organização que mais não faz do que exterminar Nações explorando seus povos e riquezas naturais até à exaustão. Um governo que deixa seus cidadãos morrerem à fome, que retira das crianças bens essenciais, que expropria um povo da sua água, que coloca hospitais nas mãos de capitalistas sedentos pela ganância nunca será um governo que se preocupará com os miseráveis, logo a Santa Casa sem verbas colocará nas ruas milhares e milhares de sem abrigo. Assim se vê a grandeza de uma Nação, estes gajos perderam toda a vergonha, de cu virado para o FMI expropriam gerações de portugueses privatizando tudo. Vou ter de citar Saramago:
"Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e
o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa,
privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E
finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os
Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas,
mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo...
e, já agora, privatize-se também a puta
que os pariu a todos."
JOSÉ
SARAMAGO
À noite eu penso nos miseráveis e em suas crianças
Na fome de três dias sem comer
Na fome que dói no osso
Na fome que se agarra mórbida nos braços de Jesus
Na angústia muda e petrificada que ninguém ouve
À noite eu penso neles como ratos
espremidos todos num único quarto
Noite quente, pavorosa sob a telha fervente
O suor escorre, o sangue escorre,
A dignidade – se já houve um dia – escorre pelo ralo
entupido de merda mole
À noite eu penso neles como cães
Roendo ossos, cozinhando bofes, lambendo tripas
com seus dentes todos podres e suas bocas cheias de feridas
Sem a esperançosa visão da luz no fim do túnel
ou mesmo a tão propalada misericórdia do Deus omnisciente
À noite eu vejo a mãe em completo desespero
sem ter o que dar de comer para sua prole proletária
Todos eles pequenos e frágeis e feios
Morrendo aos poucos em silêncio.
Enquanto isso, nos palácios, as princesas jogam fora aquele vestido
cujo único defeito é uma pequena e imperceptível
mancha de sorvete de baunilha que ali caiu no réveillon em Búzios
no ano passado.
De: Guto Capucho
16 de setembro de 2011
Comprar Afectos
O nível de bem-estar das crianças depende mais do tempo que os pais passam com elas do que da quantidade e preço dos brinquedos que recebem. O alerta é dado pela UNICEF que promoveu um estudo com o objectivo de avaliar as atitudes das crianças face a conceitos como felicidade e sucesso. A investigação foi realizada em três países: Inglaterra, Suécia e Espanha. Segundo os resultados, Inglaterra é o país onde o consumismo é mais compulsivo e generalizado. E é também aquele em que os níveis de bem-estar das crianças são mais baixos, relativamente à Suécia e Espanha.
Segundo a UNICEF, esta cultura do consumo e da medida do sucesso pelo saldo da conta bancária é em parte responsável pelos tumultos e saques que aconteceram em Londres neste Verão.
O que as crianças precisam para se sentirem felizes é de passar tempo com a família. Mas o tempo que os pais têm para elas é muitas vezes escasso. Os pais procuram então compensar esse défice com brinquedos, roupas e presentes caros.
O responsável pela UNICEF no Reino Unido apelou para que o governo tome medidas no sentido de acabar com a publicidade dirigida a crianças com menos de 12 anos, por um lado, e que permitam que os pais passem menos horas a trabalhar, por outro.
O estudo contou com a participação de 250 crianças, dos três países, com idade compreendidas entre os oito e os 13 anos.
10 de setembro de 2011
Os 11s de Setembro
11 directores foram convidados para fazerem um filme sobre a queda das torres gémeas em 11 de Setembro.
Esta é a brilhante contribuição de Ken Loach que traça um paralelo com um outro 11 de Setembro, aquele de 1973 no Chile.
Quando Barack Obama desembarcar no Chile para uma visita de 24 horas,
algo crucial faltará em sua agenda. Haverá mariscos suculentos,
discursos elogiosos à prosperidade do Chile, acordos bilaterais e
encontros com poderosos e celebridades, mas não há planos, sem dúvida,
de que o presidente dos Estados Unidos tome contacto com o que foi a
experiência fundamental da recente história chilena, o trauma que o povo
de meu país sofreu durante os quase dezassete anos do regime do general
Augusto Pinochet.
Enquanto a media brasileira se deslumbrou com a visita de Obama e
continua publicando páginas e páginas de abobrinhas mesmo depois de ele
ter deixado o país, a imprensa chilena questionou o presidente dos
Estados Unidos sobre sua disposição em colaborar com investigações sobre
os crimes da ditadura militar chilena e pedir desculpas pelo apoio de
seu país ao golpe de 11 de Setembro de 1973.
Esta é a brilhante contribuição de Ken Loach que traça um paralelo com um outro 11 de Setembro, aquele de 1973 no Chile.
Em 1965, durante uma viagem notável ao Chile, Bobby Kennedy quebrou seu rígido protocolo e se encontrou com mineiros explorados e estudantes universitários hostis. Ele mergulhou nos problemas do país para conhecê-los, para perguntar como chegar a uma solução. E se Obama decidisse seguir o exemplo de Kennedy – seu ídolo, Bobby Kennedy – e mudasse o roteiro para fazer algo sem precedentes como uma visita ao túmulo de Allende? Não seria preciso pedir perdão ou expressar remorso pela intervenção dos EUA nos assuntos internos do Chile, nem por ter sustentado Pinochet durante tanto tempo. Bastaria esse gesto singelo. O artigo é de Ariel Dorfman.
Quando Barack Obama desembarcar no Chile para uma visita de 24 horas,
algo crucial faltará em sua agenda. Haverá mariscos suculentos,
discursos elogiosos à prosperidade do Chile, acordos bilaterais e
encontros com poderosos e celebridades, mas não há planos, sem dúvida,
de que o presidente dos Estados Unidos tome contacto com o que foi a
experiência fundamental da recente história chilena, o trauma que o povo
de meu país sofreu durante os quase dezassete anos do regime do general
Augusto Pinochet.
E, no entanto, não seria impossível para Obama
ter conhecimento de uma pequena amostra do que foi a aflição do Chile. A
poucas quadras do Palácio Presidencial de La Moneda, onde será recebido
por Sebastian Piñera, 120 pesquisadores se dedicam assiduamente a
construir uma lista definitiva das vítimas de Pinochet para que possa
ser feita alguma forma de reparação. Esta é a terceira tentativa desde
que terminou a ditadura, em 1990, para enfrentar as perdas massivas que
ocasionou. Duas comissões estabelecidas oficialmente investigaram uma
imensa quantidade de casos de tortura, execuções e prisão política, mas
foi ficando claro, na medida em que passavam os anos, que inumeráveis
abusos de direitos humanos seguiam sem identificação. E, de fato, a
pesquisa recente recebeu 33 mil solicitações adicionais, horrores que
ainda não tinham sido registados.
Ainda que Obama não tenha
direito a ler nenhum dos informes confidenciais acerca daqueles casos,
alguns minutos roubados de seu estrito calendário para falar com alguns
dos homens e mulheres que realizam essas pesquisas, o informariam mais
sobre a escondida agonia do Chile do que mil livros e reportagens.
Poderia,
por exemplo, conversar com a pesquisadora chamada Tamara. No dia 11 de Setembro de 1973, dia em que Salvador Allende foi derrubado, o pai de
Tamara, um dos guarda-costas de Allende, foi detido, sem que jamais se
soubesse seu paradeiro posterior. Eu trabalhava em La Moneda na época do
golpe militar e salvei minha vida em função de uma cadeia de
coincidências milagrosas, mas o pai de Tamara não teve tanta sorte,
assim como não tiveram vários bons amigos meus, cujos corpos ainda estão
sem sepultura.
Ler artigo original: Carta Maior-Internacional
Enquanto a media brasileira se deslumbrou com a visita de Obama e
continua publicando páginas e páginas de abobrinhas mesmo depois de ele
ter deixado o país, a imprensa chilena questionou o presidente dos
Estados Unidos sobre sua disposição em colaborar com investigações sobre
os crimes da ditadura militar chilena e pedir desculpas pelo apoio de
seu país ao golpe de 11 de Setembro de 1973.
Não poderia haver questão mais pertinente. Obama chegou à América
Latina com um discurso de defesa da democracia conquistada a duras penas
em todo o continente, mas sua pregação só teria sentido se precedida
por um mea culpa. Foi com apoio directo e comprovado dos Estados Unidos
que governos eleitos pelo provo foram derrubados por golpes de Estado e o
processo democrático interrompido em grande parte da América Latina.
Não se constroem novas relações sem resolver as pendências do
passado. A Igreja católica jamais poderia tentar estabelecer laços com o
povo judeu sem pedir perdão pela indiferença à perseguição por eles
sofrida durante o nazismo. Não se passa a borracha no passado,
principalmente quando as chagas ainda estão abertas, como no caso das
jovens democracias latino-americanas.
Em sua viagem ao continente, Obama escolheu três países
particularmente afectados em suas histórias por regimes truculentos, que
mataram seus cidadãos e atrasaram seus desenvolvimentos com o suporte
dos Estados Unidos. O Brasil enfrentou 25 anos de trevas depois que o
governo João Goulart foi derrubado por um golpe de Estado orquestrado
com amplo envolvimento da diplomacia norte-americana. Até a quarta frota
foi enviada para águas brasileiras para colaborar no enfrentamento de
uma possível resistência.
No caso chileno, a CIA esteve envolvida na conspiração para a
derrubada de Salvador Allende desde a greve dos caminhoneiros até o
endosso ao governo do general Pinochet. E em El Salvador,
também houve apoio integral à ditadura que praticou crimes bárbaros
contra a população, culminando com o assassinato do bispo católico Dom
Oscar Romero, fuzilado quando celebrava missa na capital do país.
Ler artigo completo: Direto da Redação
6 de setembro de 2011
VERITAS OMNIA VINCIT
“Não devemos acreditar nos muitos que
dizem que só as pessoas livres devem ser educadas, deveríamos antes
acreditar nos filósofos que dizem que apenas as pessoas educadas são
livres.”
Epicteto, filósofo romano e ex-escravo – Discursos
Não
há quem não aprecie e anseie por liberdade. Costumamos encerrar nossos
cães em coleiras e percebemos o quanto isso lhes causa sofrimento. É
tolice achar que os pássaros presos em gaiolas estão felizes, e por isso
cantam. Tentem então prender um gato e vejam a tamanha revolta que
manifestam. Todos querem ser livres. E quanto maior é a capacidade de
discernir, maior será o apreço por uma vida livre.
Nós
humanos, dentre todos os animais, possuímos cérebros mais complexos e
sofisticados, somos mais capazes de estimar a qualidade de ser livre. Em
verdade, não só apreciamos, mas buscamos cada vez mais nos distanciar
da servidão ou de qualquer sistema opressor.
Em
Roma existiu um filósofo que conheceu a escravidão, não sabemos qual
era seu verdadeiro nome mas chamavam-no de Epicteto. Acabou sendo
libertado pelo seu senhor, que por sua vez era também um ex-escravo. Em
Roma Epicteto passou a estudar o estoicismo tornando-se um de seus
principais expoentes.
A
frase de Epicteto citada acima, nos ensina que os que são verdadeiramente
livres, são também os verdadeiramente instruídos. Mas alguém pode
perguntar, livres do quê? Ou, instruídos em quê? Tanto em Roma, como na
Grécia clássica, a escravidão era essencial para a economia. Nessas
sociedades, mulheres e escravos não tinham todo o acesso ao conhecimento, e
nem eram admitidos na participação dos debates em praça pública (só as pessoas livres devem ser educadas). Mulheres e escravos possuíam papeis definidos, e cada um à sua maneira vivia uma espécie de servidão.
Exemplos
como o de Epicteto, que vivenciou a escravidão mas elevou-se a um
patamar intelectual nivelado ao dos pensadores de sua época, ou os casos
de Safo e Hipasia, mulheres que ousaram aventurar-se nesse mundo,
exclusivo para homens, são raros na história. A humanidade não faz ideia
do quanto perdeu criando essas muralhas de preconceito, fundamentadas
em costumes e tradições.
Hoje
os dias são outros. Ainda que zigotos desse mal sejam semeados em
muitos recantos da Terra, a escravidão, se comparada às antigas eras, é
quase extinta. Mas as mulheres ainda sofrem muito com o machismo, graças às ideologias patriarcais que insistem em vigorar.
Existem
porém, muitas outras formas de ignorância e subserviência, para que
possamos repousar tranquilamente a cabeça sobre o travesseiro. Se o
mundo antigo adoecia porque muitos não tinham acesso ao conhecimento, ou
alguns sistemas proibiam seu avanço, hoje a humanidade sofre porque não
sabe absorver conscienciosamente toda a ciência que se avoluma. A
humanidade ainda não é livre.
A
democracia, ainda que com percalços, tem se mostrado o melhor princípio
de governo que existe, mas para que esse sistema possa funcionar correctamente, é
preciso que o povo seja instruído. Como o regime democrático pode ser
um verdadeiro baluarte para a nação, pode também ser fonte de poder nas
mãos de poucos, nas mãos daqueles que estão no comando da nação. A
teoria democrática nos diz que o poder de decisão está nas mãos do povo,
mas quando o povo não possui instrução e senso crítico, esse direito se
aliena. O resultado é o abuso indiscriminado do poder concentrado nas
mãos de líderes que esse mesmo povo, de forma cega, escolheu.
Um
povo instruído, conclui-se, torna-se capaz de alcançar autonomia
democrática, e é evidente que muitos dos que lideram um governo não
pretendem que isso aconteça. Não é a toa que não vemos, em nosso país,
um esforço maior em se investir em educação e cultura, assistimos apenas
ao desenlace de movimentos tímidos, que esbarram numa série de
impedimentos. Todos sofrem, mas poucos sentem a dor, a maioria está
entorpecida, entretidos com o futebol ou os reality shows da tv. E se
não sentem a dor, não há do que reclamar.
A
liberdade que a instrução concede ao homem não se restringe apenas ao
campo social, e na verdade essa nem é a área mais importante, a
liberdade social será um sintoma, uma consequência. O preconceito, a
ignorância, as superstições e desilusões, estão na conta dos grilhões que
nos prendem. Vítimas dos predicativos citados, são incapazes de
discernir ou avaliar o que quer que seja. Thomas Jefferson disse “Se uma
nação espera ser ignorante e livre num estado de civilização, espera o
que nunca foi e o que nunca será”.
Conscientizando-se
de que a instrução é tão necessária para esta emancipação intelectual, é
preciso agora estabelecer que tipo de instrução é essa. Epicteto fala
de educação (as pessoas educadas são livres). Um dos termos
latinos para educação é “educare”* que significa nutrir. Toda
civilização desenvolvida ou primitiva possui métodos de trabalho, de
produção, de defesa do estado ou tribo, possui também crenças
religiosas, tecnologia e costumes, a tudo isso se dá o nome de cultura.
Toda essa gama de valores e fazeres tinha de ser comunicada, e a
transmissão oral e escrita, feita por pessoas qualificadas para isso, é o
que chamamos de educação. Esse era o “nutrir” da educação, qualificar
os jovens para o trabalho, para o bom desempenho de seus papéis dentro
do grupo, seguindo um processo endo cultural. Caso contrário o futuro da
tribo ou do estado correriam sérios riscos.
Com
o advento da Filosofia o educar ganhou novos contornos, novos nuances.
Além de preparar o homem para as labutas sociais, a educação seria causa
de transformação, de um desabrochar do ser, levando o homem para além de
si mesmo, ampliando seus horizontes. A
educação em Filosofia é um acréscimo substancial de riqueza, construindo
solidamente a célula, para que todo o tecido social se torne mais forte
e coeso. Platão acreditava nisso, ainda que em sua República houvesse
ressalvas quanto aos soldados e escravos, mas na sociedade ideal de
Platão havia um avanço, pois até as mulheres poderiam ter participação.
Vê-se que aos poucos a Filosofia ia quebrando tabus e preconceitos.
Hoje
possuímos um quadro muito mais amplo do conceito de educação, mas a ideia original, a de nutrir, ainda é a mesma. É preciso que nossas
mentes sejam bem alimentadas à semelhança de nossos corpos. Um pai pode
escolher dar ao filho um café da manhã reforçado ou pobre em vitaminas,
até mesmo escolher dar alimento prejudicial, como ovos fritos e bacon.
Da mesma forma os pais são responsável pelo alimento cultural que
tornará seus filhos gigantes intelectuais ou não.
Em
muitos lares a tv funciona como ferramenta educadora, os pais deixam
seus filhos diante da televisão, autopreservando-se das constantes
perguntas que os filhos costumam fazer. Essas crianças formarão suas
opiniões baseadas no que vêem na programação televisiva. E a grade de
programas geralmente é de muito mau gosto. Se pais do mundo todo não
tomarem uma iniciativa producente, seus filhos estarão perdidos, e a
sociedade formada por esses jovens vislumbrará decadência e corrupção.
Diminuir
o tempo de tv e entreter as crianças com actividades mais construtivas, é
o que deveria ser feito. Outra coisa, e de mais importância, é criar o
gosto pela leitura em nossos filhos. Acontece que, em casa onde não se
lê dificilmente isso acontecerá. As crianças imitam os adultos, elas
admiram seus hábitos. Numa família onde a maioria lê, ou pelos menos os
pais lêem, as chances dos filhos se interessarem pela leitura será
maior. Habituando-se a si mesmo e aos filhos na prática da leitura o
resto do caminho será mais fácil.
Uma
sociedade com homens livres não é utopia, é um sonho possível. Mas
mudar o mundo é difícil, comecemos então por nós, podemos mudar o nosso
universo, ampliar nossas perspectivas, basta querer. Vamos nutrir nossas
mentes com alimento vigoroso e sadio, livre de saturação, de escória. O
primeiro passo pode ser a aquisição de um livro. Qual livro? Depende do
que quiser saber. Visite livrarias, consulte as bibliotecas. Existem
livros que funcionam como “primeiros passos” para os que são leigos em
determinados assuntos. Quer entender sobre o espaço e os planetas?
Procure um livro que possa iniciá-lo em astronomia, na dúvida pergunta
ao vendedor ou bibliotecário. Quer saber mais sobre as plantas, a
vegetação de nosso país, um livro que o inicie em Botânica. E por aí
vai. Se você procurar se aprofundar em algum assunto que lhe interesse,
que goste ou ame, pode ter certeza que outras janelas de conhecimento se
abrirão e sua mente, agora resiliente, se expandirá. O mesmo não se
pode dizer daqueles que se contentam com o superficial, aliás esse é o
mal de muitos.
Se
no passado homens como Espártaco ou Robert de Brus se rebelaram, e com
impertérrita belicosidade, alcançaram a tão almejada liberdade, é
preciso assumir uma postura aguerrida contra nós mesmos, lutando contra
as convenções, crendices e preconceitos, que fazem cómoda morada em
nossas mentes. A verdade sempre vence.
Por: Emerson Freire
1 de setembro de 2011
Memórias do Saque
Uma ante-visão assustadora no que Portugal se está a transformar.
"Premiado com o Urso de Ouro em Berlim e Melhor documentário em Havana, o filme mostra de que forma a Argentina foi saqueada pelas grandes corporações, de como o governo neoliberal de Menem conseguiu levar o país à bancarrota, privatizando tudo e servindo aos interesses do FMI, Banco Mundial e OMC. Genocídio Social, a Argentina passa da condição de país "quase de 1º Mundo" para um país em que a maioria da população se torna miserável. Mortalidade infantil, desnutrição, abandono social total, endividamento externo fizeram a marca do que seria o "exemplo de neoliberalismo para o mundo". Toda essa situação se tornou insuportável até finalmente explodir na revolta popular de 19 e 20 de Dezembro de 2001."
"Premiado com o Urso de Ouro em Berlim e Melhor documentário em Havana, o filme mostra de que forma a Argentina foi saqueada pelas grandes corporações, de como o governo neoliberal de Menem conseguiu levar o país à bancarrota, privatizando tudo e servindo aos interesses do FMI, Banco Mundial e OMC. Genocídio Social, a Argentina passa da condição de país "quase de 1º Mundo" para um país em que a maioria da população se torna miserável. Mortalidade infantil, desnutrição, abandono social total, endividamento externo fizeram a marca do que seria o "exemplo de neoliberalismo para o mundo". Toda essa situação se tornou insuportável até finalmente explodir na revolta popular de 19 e 20 de Dezembro de 2001."
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