21 de setembro de 2011

Santa Casa, quem peca contra ti? Ou, "Prefiro o Mal Menor"

Hoje em dia já são poucas as notícias que me sobressaltam, quando acordo penso que me sinto preparado (no mínimo) para me confrontar com o mundo tirânico, em especial o português, que surge em destaque na imprensa escrita.
 Mas hoje foi excepção ou talvez não. Leio no Jornal i «"Governo mete Euromilhões no Orçamento do Estado", Santa Casa da Misericórdia de Lisboa vai ser nacionalizada já em 2012».
 Ainda me custa a crer, mas dos 'poderosos' que se instalaram em Portugal espero o pior. Parece que esta iniciativa de um governo tirânico agrada à esquerda, o que também já não me admira, chamar esquerda a esta esquerda, equivale a chamar a um penico, um alguidar.
Sei que os ladrões estão em todo o lado, obviamente a Santa Casa não será excepção, mas retirar a esta Instituição as verbas dos chamados 'jogos de azar' será retirar o pão a milhares de portugueses cuja fome é evitada pelas centenas de associações de cariz social que se espalham por todo o lado graças à Organização da Santa Casa e dos seus jogos. Acredito que muita gente na Santa Casa tenha de tudo menos de Santo, só que nesta Organização existe muita gente boa que com essas verbas matam a fome a milhares de Portugueses.
 O Estado composto de tudo, menos de gente boa, onde fareja dinheiro saqueia, em nome de uma organização que mais não faz do que exterminar Nações explorando seus povos e riquezas naturais até à exaustão. Um governo que deixa seus cidadãos morrerem à fome, que retira das crianças bens essenciais, que expropria um povo da sua água, que coloca hospitais nas mãos de capitalistas sedentos pela ganância nunca será um governo que se preocupará com os miseráveis, logo a Santa Casa sem verbas colocará nas ruas milhares e milhares de sem abrigo. Assim se vê a grandeza de uma Nação, estes gajos perderam toda a vergonha, de cu virado para o FMI expropriam gerações de portugueses privatizando tudo. Vou ter de citar Saramago:

"Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos."
JOSÉ SARAMAGO


 
À noite eu penso nos miseráveis e em suas crianças
Na fome de três dias sem comer
Na fome que dói no osso
Na fome que se agarra mórbida nos braços de Jesus
Na angústia muda e petrificada que ninguém ouve


À noite eu penso neles como ratos
espremidos todos num único quarto
Noite quente, pavorosa sob a telha fervente
O suor escorre, o sangue escorre,
A dignidade – se já houve um dia – escorre pelo ralo
entupido de merda mole


À noite eu penso neles como cães
Roendo ossos, cozinhando bofes, lambendo tripas
com seus dentes todos podres e suas bocas cheias de feridas
Sem a esperançosa visão da luz no fim do túnel
ou mesmo a tão propalada misericórdia do Deus omnisciente


À noite eu vejo a mãe em completo desespero
sem ter o que dar de comer para sua prole proletária
Todos eles pequenos e frágeis e feios
Morrendo aos poucos em silêncio.


Enquanto isso, nos palácios, as princesas jogam fora aquele vestido
cujo único defeito é uma pequena e imperceptível
mancha de sorvete de baunilha que ali caiu no réveillon em Búzios
no ano passado.

De: Guto Capucho

1 comentário:

Unknown disse...

Muito bonito e bem colocado.
Beijos!

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