Está na moda. o optimismo.
Provavelmente, como reacção a uma espécie de perturbação afectiva generalizada que parece fazer balançar muita gente entre quase surtos depressivos e períodos de euforia, o interesse científico na área do comportamento humano virou-se nos últimos anos para a compreensão das razões por que uns fazem uma festa com coisa nenhuma e outros se entretêm a antecipar desgraças.
Embora o tema do optimismo e do pessimismo sirva, entre nós, sobretudo para produção de anedotas, até essas anedotas contêm um ensinamento sempre repetido: que mais importante do que as circunstâncias e os acontecimentos é o olhar de quem vê, a perspectiva que se consegue ter, o sentimento íntimo que acompanha a interpretação que se faz do que vai passando por nós.
2. Se fosse uma questão de opção, se se pudesse escolher um modo de ser e de sentir, seríamos todos infatigáveis optimistas plenos de visões retocadas dos outros e do mundo. Todos preferiríamos a jovialidade, a facilidade e a leveza que parecem existir naqueles que levam a vida com uma perna às costas, que têm sempre soluções e formas de ultrapassar qualquer situação, que acreditam, para lá de todos os argumentos, que vão mesmo transformar sonhos em realidade, acertar na lotaria ou encontrar o príncipe perfeito montado num cavalo branco.
Ninguém no seu perfeito juízo escolheria, se pudesse, estar imbuído de visões trágicas, de medos a escorrer à socapa de todos os gestos, de pressentimentos de desgraças e de cataclismos. Ninguém, se fosse possível escolher, quereria ter o condão de ver primeiro as partes más, de cheirar com antecedência o que vai correr mal, de destacar para primeiro plano o sórdido, de adivinhar o negativo, de fazer das leis de Murphy uma indec1inável predestinação.
3. Mesmo percebendo que optimismo a mais é defeito, que idealismo infinito e perspectivas cor-de-rosa do cinzento alimentam trajectórias de vida de insucessos consecutivos, mesmo assim, todos gostariam de ter essa possibilidade.
Daí que se compreenda que até a ciência embarque na investigação sistemática dos «comos» e «porquês».
Em si mesmo, e à sua maneira. também é uma manifestação de optimismo.
Isabel Leal
PSICÓLOGA
in Noticias Magazine 21Fev2010
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