7 de abril de 2010

O estudo do comportamento humano interessa à ciência desde há muitos séculos. Mas nunca como agora houve tanto especialista a investigar as razões que levam uns a desenvolver uma perspectiva optimista da vida e outros a olhá-la sempre de modo negativo.

Está na moda. o optimismo.
Provavelmente, como reac­ção a uma espécie de perturba­ção afectiva generalizada que parece fazer balançar muita gente entre quase surtos de­pressivos e períodos de euforia, o interesse científico na área do comportamento humano vi­rou-se nos últimos anos para a compreensão das razões por que uns fazem uma festa com coisa nenhuma e outros se en­tretêm a antecipar desgraças.
Embora o tema do opti­mismo e do pessimismo sir­va, entre nós, sobretudo pa­ra produção de anedotas, até essas anedotas contêm um ensinamento sempre repeti­do: que mais importante do que as circunstâncias e os acontecimentos é o olhar de quem vê, a perspectiva que se consegue ter, o sentimen­to íntimo que acompanha a interpretação que se faz do que vai passando por nós.
2. Se fosse uma questão de opção, se se pudesse escolher um modo de ser e de sentir, seríamos todos infatigáveis optimistas plenos de visões retocadas dos outros e do mundo. Todos preferiríamos a jovialidade, a facilidade e a leveza que parecem existir naqueles que levam a vida com uma perna às costas, que têm sempre soluções e formas de ultrapassar qualquer situação, que acreditam, pa­ra lá de todos os argumentos, que vão mesmo transformar sonhos em realidade, acertar na lotaria ou encontrar o príncipe perfeito montado num cavalo branco.
Ninguém no seu perfeito juízo escolheria, se pudesse, estar imbuído de visões trági­cas, de medos a escorrer à so­capa de todos os gestos, de pressentimentos de desgra­ças e de cataclismos. Nin­guém, se fosse possível esco­lher, quereria ter o condão de ver primeiro as partes más, de cheirar com antecedência o que vai correr mal, de des­tacar para primeiro plano o sórdido, de adivinhar o nega­tivo, de fazer das leis de Murphy uma indec1inável predestinação.
3. Mesmo percebendo que optimismo a mais é defeito, que idealismo infinito e perspectivas cor-de-rosa do cinzento alimentam trajec­tórias de vida de insucessos consecutivos, mesmo assim, todos gostariam de ter essa possibilidade.
Daí que se compreenda que até a ciência embarque na investigação sistemática dos «comos» e «porquês».
Em si mesmo, e à sua ma­neira. também é uma manifestação de optimismo.

Isabel Leal
PSICÓLOGA
in Noticias Magazine 21Fev2010

Sem comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...