16 de agosto de 2012

Tejo Que Levas as Águas

ADRIANO CORREIA DE OLIVEIRA, para um poema de MANUEL DA FONSECA

Tejo que levas as águas 
correndo de par em par 
lava a cidade de mágoas 
leva as mágoas para o mar 

Lava-a de crimes espantos 
de roubos, fomes, terror, 
lava a cidade de quantos 
do ódio fingem amor 

Leva nas águas as grades 
de aço e silêncio forjadas 
deixa soltar-se a verdade 
das bocas amordaçadas 
                                                                                     

Lava bancos e empresas 
dos comedores de dinheiro 
que dos salários de tristeza 
arrecadam lucro inteiro 

Lava palácios vivendas 
casebres bairros da lata 
leva negócios e rendas 
que a uns farta e a outros mata 

Tejo que levas as águas 
correndo de par em par 
lava a cidade de mágoas 
leva as mágoas para o mar 

Lava avenidas de vícios 
vielas de amores venais 
lava albergues e hospícios 
cadeias e hospitais 

Afoga empenhos favores 
vãs glórias, ocas palmas 
leva o poder de uns senhores 
que compram corpos e almas 

Leva nas águas as grades 
... 

Das camas de amor comprado 
desata abraços de lodo 
rostos corpos destroçados 
lava-os com sal e iodo 

Tejo que levas nas águas

1 comentário:

Unknown disse...

Triste, porém muito lindo.
Beijos!!!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...