13 de novembro de 2009

UM PAPÃO NA DESPENSA


Os nossos organismos contêm provavelmente bisfenol A, ou BPA [da grafia inglesa bisphenol A]. Trata-se de um estrogénio sintético que as fábricas nos EUA usam hoje em dia para tudo, numa proporção de 3 kg por cada cidadão. Ou seja, uma quantidade imensa de estrogénio.
Mais de 92% dos norte-americanos têm BPA na urina. Os cientistas fizeram, embora não conclusivamente, a ligação da substância a vários males, do cancro da mama à obesidade e do défice de atenção às anomalias genitais de rapazes e raparigas.
Agora, ao que parece, está na nossa comida.
A revista "Consumer Reports" testou uma série de alimentos enlatados de marcas conhecidas com vista a fazer um relatório na sua edição de Dezembro, e encontrou BPA em quase todos. A revista afirma que apareceram níveis relativamente altos em alimentos como, por exemplo, a sopa de legumes da Progresso, a canja de galinha condensada da Campbell's e o feijão-verde cortado Blue Lake, da Del Monte.
A revista afirma ainda que encontrou BPA na versão líquida enlatada da papa para bebé Similac Advance e no sumo enlatado Juicy Juice, da Nestlé. O BPA presente nos alimentos tem origem provável no revestimento interno usado em muitas latas.

"A grande maioria dos cientistas independentes, ou seja, os que não trabalham para a indústria, está preocupada com a exposição, ainda que em doses reduzidas, ao BPA em idades precoces", diz Janet Gray, professora da Universidade Vassar.

Este ano, a revista académica "Environmental Health Perspectives" verificou que as ratinhas grávidas expostas a BPA tinham crias com anomalias na vagina, no colo do útero e no útero. A revista "Reproductive Toxicology" verificou que a exposição ao BPA, ainda que em doses pequenas, provocava a puberdade precoce nas ratinhas. E há uma série de estudos em animais que associam a exposição pré-natal ao BPA ao cancro da mama e da próstata.
Embora a maioria dos estudos seja feita com animais, a revista oficial da American Medical Association indicou, o ano passado, que os seres humanos com níveis mais altos de BPA no sangue têm "uma maior predominância de doenças cardiovasculares, diabetes e anomalias nas enzimas hepáticas". Outro estudo publicado revelou que as mulheres com níveis mais altos de BPA no sangue tinham mais abortos espontâneos.

Os estudiosos notaram que está a aumentar o número de casos de rapazes com malformações dos órgãos genitais, de raparigas que entram na puberdade aos 6 ou 8 anos, de cancro da mama tanto em homens como em mulheres e de baixas contagens de esperma dos homens. A Endocrine Society, uma associação de endocrinologistas, declarou este ano que este tipo de anomalias pode dever-se ao aumento de disruptores endócrinos e pediu especificamente às autoridades reguladoras que reavaliem o BPA.
A FDA (autoridade americana para a segurança alimentar), que no passado confiava em larga medida nos estudos realizados pela indústria, está a estudar novamente a questão. Há projectos de lei pendentes no Congresso para proibir o BPA nos recipientes de comidas e bebidas.

"Quando há 92% da população exposta a uma substância química, não há margem para erro", diz Ted Schettler, da Science and Environmental Health Network. "Vamos discutir a validade de estudos individuais feitos em roedores ou vamos tomar medidas?"

Publicado no jornal i por Nicholas Kristof em 12 Novembro 2009
Para ler todo o artigo clique nesta hiperligação:
http://www.ionline.pt/conteudo/32511-um-papao-na-despensa

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