24 de fevereiro de 2010

Os casais e a união perfeita. Casamento? Sim, enquanto durar.



Antigamente toda a gente se casava; o matrimónio era a base estável da casa, da família, e assegurava respeitabilidade, ajuda em caso de necessidade, descendência e uma velhice serena. As solteironas eram dignas de compaixão, a mulher que tivesse filhos sem ter marido era marginalizada. Não eram admitidas outras formas de convivência erótica. Por essa razão, o matrimónio era indissolúvel e durava até à morte. Hoje tudo mudou. A sociedade ocupa-se da educação, do trabalho, da segurança, da saúde. Os jovens têm relações amorosas e eróticas na adolescência e nos anos seguintes mudam de parceiros com frequência.Costumam casar-se quando querem ter filhos, mas os nascimentos não os impedem de se divorciar ou separar ou de ter um novo relacionamento. O matrimónio está a tornar-se sequencial: um cônjuge de cada vez. Nos intervalos, experiências de solteiro ou convivências. De facto, os sociólogos verificam que o casamento e a convivência só duram enquanto os dois parceiros estão bem juntos. Alguns enquanto existe paixão, na maioria dos casos enquanto se amam, se compreendem, enquanto a relação erótica é fonte de prazer mútuo, enquanto são sinceros e fiéis e a relação é serena. Contudo, quando o entendimento amoroso acaba, a relação deteriora-se e, mais cedo ou mais tarde, o casal rompe-a, por vezes de maneira maldosa e venenosa.

Foi por isso que dediquei toda a minha vida a estudar o amor do casal, por ter permanecido a única coisa que une o casal e a família. Tenho noção dos erros grosseiros que cometemos por superficialidade, por ignorância. O amor é muito frágil; basta uma diferença no modo de pensar ou uma sensibilidade erótica diferente; basta querer impor uma preferência que o outro aceita para não nos desagradar; basta que entre os dois se insinue a competição. Porém, também conheço amores ardentes e apaixonados que duram décadas. Qual é o segredo? Talvez tenham por base uma afinidade misteriosa de corpo e alma, mas também tolerância, capacidade de falar um com o outro, de se compreender, de confessar o que lhes agrada ou desagrada com sinceridade, com candura.

Mas nem todos conseguem ter este amor total, que também pode acabar de um momento para o outro. Então, se a estabilidade do matrimónio depende assim tanto do amor, pergunto--me se, sem tocar no casamento tradicional, não seria melhor estudarmos também outras fórmulas legais ou contratos matrimoniais que permitam soluções mais articuladas, adequadas às várias circunstâncias do nosso tempo.
Francesco Alberoni in Jornal  i

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