10 de setembro de 2011

Os 11s de Setembro

11 directores foram convidados para fazerem um filme sobre a queda das torres gémeas em 11 de Setembro.
Esta é a brilhante contribuição de Ken Loach que traça um paralelo com um outro 11 de Setembro, aquele de 1973 no Chile.

          

Em 1965, durante uma viagem notável ao Chile, Bobby Kennedy quebrou seu rígido protocolo e se encontrou com mineiros explorados e estudantes universitários hostis. Ele mergulhou nos problemas do país para conhecê-los, para perguntar como chegar a uma solução. E se Obama decidisse seguir o exemplo de Kennedy – seu ídolo, Bobby Kennedy – e mudasse o roteiro para fazer algo sem precedentes como uma visita ao túmulo de Allende? Não seria preciso pedir perdão ou expressar remorso pela intervenção dos EUA nos assuntos internos do Chile, nem por ter sustentado Pinochet durante tanto tempo. Bastaria esse gesto singelo. O artigo é de Ariel Dorfman.

Quando Barack Obama desembarcar no Chile para uma visita de 24 horas, algo crucial faltará em sua agenda. Haverá mariscos suculentos, discursos elogiosos à prosperidade do Chile, acordos bilaterais e encontros com poderosos e celebridades, mas não há planos, sem dúvida, de que o presidente dos Estados Unidos tome contacto com o que foi a experiência fundamental da recente história chilena, o trauma que o povo de meu país sofreu durante os quase dezassete anos do regime do general Augusto Pinochet.

E, no entanto, não seria impossível para Obama ter conhecimento de uma pequena amostra do que foi a aflição do Chile. A poucas quadras do Palácio Presidencial de La Moneda, onde será recebido por Sebastian Piñera, 120 pesquisadores se dedicam assiduamente a construir uma lista definitiva das vítimas de Pinochet para que possa ser feita alguma forma de reparação. Esta é a terceira tentativa desde que terminou a ditadura, em 1990, para enfrentar as perdas massivas que ocasionou. Duas comissões estabelecidas oficialmente investigaram uma imensa quantidade de casos de tortura, execuções e prisão política, mas foi ficando claro, na medida em que passavam os anos, que inumeráveis abusos de direitos humanos seguiam sem identificação. E, de fato, a pesquisa recente recebeu 33 mil solicitações adicionais, horrores que ainda não tinham sido registados.

Ainda que Obama não tenha direito a ler nenhum dos informes confidenciais acerca daqueles casos, alguns minutos roubados de seu estrito calendário para falar com alguns dos homens e mulheres que realizam essas pesquisas, o informariam mais sobre a escondida agonia do Chile do que mil livros e reportagens.

Poderia, por exemplo, conversar com a pesquisadora chamada Tamara. No dia 11 de Setembro de 1973, dia em que Salvador Allende foi derrubado, o pai de Tamara, um dos guarda-costas de Allende, foi detido, sem que jamais se soubesse seu paradeiro posterior. Eu trabalhava em La Moneda na época do golpe militar e salvei minha vida em função de uma cadeia de coincidências milagrosas, mas o pai de Tamara não teve tanta sorte, assim como não tiveram vários bons amigos meus, cujos corpos ainda estão sem sepultura.

Ler artigo original: Carta Maior-Internacional

Enquanto a media brasileira se deslumbrou com a visita de Obama e continua publicando páginas e páginas de abobrinhas mesmo depois de ele ter deixado o país, a imprensa chilena questionou o presidente dos Estados Unidos sobre sua disposição em colaborar com investigações sobre os crimes da ditadura militar chilena e pedir desculpas pelo apoio de seu país ao golpe de 11 de Setembro de 1973.
Não poderia haver questão mais pertinente. Obama chegou à América Latina com um discurso de defesa da democracia conquistada a duras penas em todo o continente, mas sua pregação só teria sentido se precedida por um mea culpa. Foi com apoio directo e comprovado dos Estados Unidos que governos eleitos pelo provo foram derrubados por golpes de Estado e o processo democrático interrompido em grande parte da América Latina.
Não se constroem novas relações sem resolver as pendências do passado. A Igreja católica jamais poderia tentar estabelecer laços com o povo judeu sem pedir perdão pela indiferença à perseguição por eles sofrida durante o nazismo. Não se passa a borracha no passado, principalmente quando as chagas ainda estão abertas, como no caso das jovens democracias latino-americanas.
Em sua viagem ao continente, Obama escolheu três países particularmente afectados em suas histórias por regimes truculentos, que mataram seus cidadãos e atrasaram seus desenvolvimentos com o suporte dos Estados Unidos. O Brasil enfrentou 25 anos de trevas depois que o governo João Goulart foi derrubado por um golpe de Estado orquestrado com amplo envolvimento da diplomacia norte-americana. Até a quarta frota foi enviada para águas brasileiras para colaborar no enfrentamento de uma possível resistência.
 No caso chileno, a CIA esteve envolvida na conspiração para a derrubada de Salvador Allende desde a greve dos caminhoneiros até o endosso ao governo do general Pinochet. E em El Salvador, também houve apoio integral à ditadura que praticou crimes bárbaros contra a população, culminando com o assassinato do bispo católico Dom Oscar Romero, fuzilado quando celebrava missa na capital do país.

Ler artigo completo: Direto da Redação

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