11 directores foram convidados para fazerem um filme sobre a queda das torres gémeas em 11 de Setembro.
Esta é a brilhante contribuição de Ken Loach que traça um paralelo com um outro 11 de Setembro, aquele de 1973 no Chile.
Em 1965, durante uma viagem notável ao Chile, Bobby Kennedy quebrou
seu rígido protocolo e se encontrou com mineiros explorados e estudantes
universitários hostis. Ele mergulhou nos problemas do país para
conhecê-los, para perguntar como chegar a uma solução. E se Obama
decidisse seguir o exemplo de Kennedy – seu ídolo, Bobby Kennedy – e
mudasse o roteiro para fazer algo sem precedentes como uma visita ao
túmulo de Allende? Não seria preciso pedir perdão ou expressar remorso
pela intervenção dos EUA nos assuntos internos do Chile, nem por ter
sustentado Pinochet durante tanto tempo. Bastaria esse gesto singelo. O
artigo é de Ariel Dorfman.
Quando Barack Obama desembarcar no Chile para uma visita de 24 horas,
algo crucial faltará em sua agenda. Haverá mariscos suculentos,
discursos elogiosos à prosperidade do Chile, acordos bilaterais e
encontros com poderosos e celebridades, mas não há planos, sem dúvida,
de que o presidente dos Estados Unidos tome contacto com o que foi a
experiência fundamental da recente história chilena, o trauma que o povo
de meu país sofreu durante os quase dezassete anos do regime do general
Augusto Pinochet.
E, no entanto, não seria impossível para Obama
ter conhecimento de uma pequena amostra do que foi a aflição do Chile. A
poucas quadras do Palácio Presidencial de La Moneda, onde será recebido
por Sebastian Piñera, 120 pesquisadores se dedicam assiduamente a
construir uma lista definitiva das vítimas de Pinochet para que possa
ser feita alguma forma de reparação. Esta é a terceira tentativa desde
que terminou a ditadura, em 1990, para enfrentar as perdas massivas que
ocasionou. Duas comissões estabelecidas oficialmente investigaram uma
imensa quantidade de casos de tortura, execuções e prisão política, mas
foi ficando claro, na medida em que passavam os anos, que inumeráveis
abusos de direitos humanos seguiam sem identificação. E, de fato, a
pesquisa recente recebeu 33 mil solicitações adicionais, horrores que
ainda não tinham sido registados.
Ainda que Obama não tenha
direito a ler nenhum dos informes confidenciais acerca daqueles casos,
alguns minutos roubados de seu estrito calendário para falar com alguns
dos homens e mulheres que realizam essas pesquisas, o informariam mais
sobre a escondida agonia do Chile do que mil livros e reportagens.
Poderia,
por exemplo, conversar com a pesquisadora chamada Tamara. No dia 11 de Setembro de 1973, dia em que Salvador Allende foi derrubado, o pai de
Tamara, um dos guarda-costas de Allende, foi detido, sem que jamais se
soubesse seu paradeiro posterior. Eu trabalhava em La Moneda na época do
golpe militar e salvei minha vida em função de uma cadeia de
coincidências milagrosas, mas o pai de Tamara não teve tanta sorte,
assim como não tiveram vários bons amigos meus, cujos corpos ainda estão
sem sepultura.
Enquanto a media brasileira se deslumbrou com a visita de Obama e
continua publicando páginas e páginas de abobrinhas mesmo depois de ele
ter deixado o país, a imprensa chilena questionou o presidente dos
Estados Unidos sobre sua disposição em colaborar com investigações sobre
os crimes da ditadura militar chilena e pedir desculpas pelo apoio de
seu país ao golpe de 11 de Setembro de 1973.
Não poderia haver questão mais pertinente. Obama chegou à América
Latina com um discurso de defesa da democracia conquistada a duras penas
em todo o continente, mas sua pregação só teria sentido se precedida
por um mea culpa. Foi com apoio directo e comprovado dos Estados Unidos
que governos eleitos pelo provo foram derrubados por golpes de Estado e o
processo democrático interrompido em grande parte da América Latina.
Não se constroem novas relações sem resolver as pendências do
passado. A Igreja católica jamais poderia tentar estabelecer laços com o
povo judeu sem pedir perdão pela indiferença à perseguição por eles
sofrida durante o nazismo. Não se passa a borracha no passado,
principalmente quando as chagas ainda estão abertas, como no caso das
jovens democracias latino-americanas.
Em sua viagem ao continente, Obama escolheu três países
particularmente afectados em suas histórias por regimes truculentos, que
mataram seus cidadãos e atrasaram seus desenvolvimentos com o suporte
dos Estados Unidos. O Brasil enfrentou 25 anos de trevas depois que o
governo João Goulart foi derrubado por um golpe de Estado orquestrado
com amplo envolvimento da diplomacia norte-americana. Até a quarta frota
foi enviada para águas brasileiras para colaborar no enfrentamento de
uma possível resistência.
No caso chileno, a CIA esteve envolvida na conspiração para a
derrubada de Salvador Allende desde a greve dos caminhoneiros até o
endosso ao governo do general Pinochet. E em El Salvador,
também houve apoio integral à ditadura que praticou crimes bárbaros
contra a população, culminando com o assassinato do bispo católico Dom
Oscar Romero, fuzilado quando celebrava missa na capital do país.
Ler artigo completo: Direto da Redação
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