6 de junho de 2012

Discurso do Cacique Guaicaipuro Cuatemoc

Ao pesquisar o termo "guaicaipuro cuatemoc" no Google retornam aproximadamente 5.940 resultados (outubro de 2010). A pesquisa ao termo Guaicaipuro retorna 438.000 resultados (outubro de 2010).

Eles se referem a discurso que teria sido proferido pelo cacique Guaicaipuro Cuatemoc numa reunião de chefes de estado da Comunidade Européia.

Cacique Guaicaipuro Cuatemoc, Guaicaipuro Cuauhtemoc, Guatemoccomo, Cuauhtemotzin ou Guatimozin como também aparece em diversas pá
ginas da web.

O discurso jamais poderia ter sido produzido pelo cacique Guatimozin, o último chefe dos Aztecas, pois ele morreu em 1525 pelas mãos do sanguinário Cortés ou Cortez, cuja "cortesia" maior se resumia em matar e roubar os nativos do Novo Mundo.

 

A suposta fala do cacique é reproduzida nos mais diversos idiomas. Existem páginas em italiano, espanhol, português, alemão, inglês, francês, holandês e catalão.

Quem é ou quem foi o cacique Guaicaipuro Cuatemoc? A que tribo ou nação ele pertence? Onde se realizou e quem estava presente a essa reunião de chefes de estado da Comunidade Européia?

A verdade é que não existem informações confiáveis sobre o cacique, a que tribo ou nação ele pertence, nem qual o seu país de origem.

Uma das páginas fala no "
cacique de uma nação indígena da América Central". Mensagem de fevereiro de 2008 diz que ele era embaixador do México. São as duas referências mais precisas.

Até mesmo a data em que o discurso teria sido proferido não é muito precisa. Para L'Espace Citoyens a reunião teria ocorrido no mês de abril de 2002 na cidade de Valência (Espanha). Na maioria das páginas, no entanto, a data informada é 08 de fevereiro de 2002.

Página da New Internationalist Publications diz que o discurso foi proferido pelo cacique, um líder indígena mexicano, na Europa em 1992, durante comemorações do descobrimento da América. Segundo essa página, o texto foi reproduzido a partir de original publicado em Renacer Indianista No 7, e da tradução contida na revista Resurgence No 184.

Nenhum resultado retornava da pesquisa aos termos "guaicaipuro cuatemoc" na caixa de busca da página Resurgence Magazine On-line, página não mais disponível.

Página Día de la Raza dizia que o discurso havia sido trasmitido en traducción simultánea a más de un centenar de Jefes de Estado y dignatarios de la Comunidad Europea. Ou esqueceram de gravar o discurso e as traduções ou os registros se perderam. Página não mais disponível.

Uma das páginas que reproduzem o discurso apresenta a data de 29 de setembro de 2002 e diz que a tal reunião teria ocorrido "na semana passada".

O texto publicado no site de notícias Virtual Azores (página não mais disponível) se iniciava assim:

A conferencia dos chefes de estado da União Europeia, Mercosul e Caribe, encerrada no fim de semana passado, em Madrid, viveu dois momentos surpreendentes. O primeiro por causa da desatenção dos presidentes do México, Vicente Fox, e do Brasil, Fernando Henrique Cardoso.

No intervalo de uma sessão os dois conversaram com franqueza e desancaram os EUA que, segundo FHC "fala muito e faz pouco". Não sabiam que os microfones de uma estação de TV estavam ligados, e assim, apanhados no contrapé, admitiram a gafe.


  Reprodução de quadro que mostra o cacique Guatimozin sendo torturado pelo civilizado representante europeu para confessar onde se encontravam as jóias que Cortez queria roubar.

 Versão de fevereiro de 2008 diz que Guaicaipuro Cuatemoc era embaixador do México e tem o seguinte preâmbulo:

Um surpreendente discurso feito pelo embaixador Guaicaípuro Cuatemoc, de descendência indígena, advogando o pagamento da dívida externa do seu país, o México, deixou embasbacados os principais chefes de Estado da Comunidade Européia. A conferência dos chefes de Estado da União Européia, Mercosul e Caribe, em maio de 2002 em Madri, viveu um momento revelador e surpreendente: os chefes de Estado europeus ouviram perplexos e calados um discurso irônico, cáustico e de exatidão histórica que lhes fez Guaicaípuro Cuatemoc.







"Aqui estou eu, descendente dos que povoaram a América há 40 mil anos, para encontrar os que a "descobriram" há 500...

O irmão europeu da alfândega pediu-me um papel escrito, um visto, para poder descobrir os que me descobriram.

O irmão financeiro europeu pede ao meu país o pagamento, com juros, de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei que me vendesse.

Outro irmão europeu explica-me que toda a dívida se paga com juros, mesmo que para isso sejam vendidos seres humanos e países inteiros, sem lhes pedir consentimento. Eu também posso reclamar pagamento e juros.

Consta no "Arquivo da Companhia das Índias Ocidentais" que, somente entre os anos de 1503 a 1660, chegaram a São Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América.

Teria aquilo sido um saque? Não acredito, porque seria pensar que os irmãos cristãos faltaram ao sétimo mandamento!

Teria sido espoliação? Guarda-me Tanatzin de me convencer que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue do irmão.

Teria sido genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomeu de Las Casas ou Arturo Uslar Pietri, que afirmam que a arrancada do capitalismo e a actual civilização europeia se devem à inundação dos metais preciosos tirados das Américas.· Não, esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata foram o primeiro de tantos empréstimos amigáveis da América destinados ao desenvolvimento da Europa.

O contrário disso seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito a exigir não apenas a devolução, mas uma indemnização por perdas e danos. Prefiro pensar na hipótese menos ofensiva.

Tão fabulosa exportação de capitais não foi mais do que o início de um plano "MARSHALL MONTEZUMA", para garantir a reconstrução da Europa arruinada por suas deploráveis guerras contra os muçulmanos, criadores da álgebra e de outras conquistas da civilização. Para celebrar o quinto centenário desse empréstimo, podemos perguntar:

Os irmãos europeus fizeram uso racional responsável ou pelo menos produtivo desses fundos? Não. No aspecto estratégico, delapidaram-nos nas batalhas de Lepanto, em navios invencíveis, em terceiros reichs e
várias outras formas de extermínio mútuo.

No aspecto financeiro, foram incapazes - depois de uma moratória de 500anos - tanto de amortizar capital e juros, como de se tornarem independentes das rendas líquidas, das matérias-primas e da energia barata que lhes exporta e provêm de todo o Terceiro Mundo. Este quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman, segundo a qual uma economia subsidiada jamais pode funcionar, o que nos obriga areclamar-lhes, para seu próprio bem, o pagamento do capital e dosjuros que, tão generosamente, temos demorado todos estes séculos para cobrar.

Ao dizer isto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar de nossos irmãos europeus, as mesmas vis e sanguinárias taxas de 20% e até 30% de juros ao ano que os irmãos europeus cobram dos povos do Terceiro Mundo.

Limitar-nos-emos a exigir a devolução dos metais preciosos, acrescida de um módico juro de 10%, acumulado apenas durante os últimos 300 anos, concedendo-lhes 200 anos de bónus.

Feitas as contas a partir desta base e aplicando a fórmula europeia de juros compostos, concluimos, e disso informamos os nossos descobridores, que nos devem não os 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, mas aqueles valores elevados à potência de 300, número para cuja expressão total será necessário expandir o planeta Terra.

Muito peso em ouro e prata... quanto pesariam se calculados em sangue?· Admitir que a Europa, em meio milénio, não conseguiu gerar riquezas suficientes para estes módicos juros, seria admitir o seu absoluto fracasso financeiro e a demência e irracionalidade dos conceitos capitalistas. Tais questões metafísicas, desde já, não nos inquietam a nós, índios da América.

Porém, exigimos a assinatura de uma carta de intenções que enquadre os povos devedores do Velho Continente na obrigação do pagamento da dívida, sob pena de privatização ou conversão da Europa, de forma tal, que seja possível um processo de entrega de terras, como primeira prestação de dívida histórica..."

Quando terminou seu discurso diante dos chefes de Estado da Comunidade Européia, Guaicaípuro Guatemoc não sabia que estava expondo uma tese de Direito Internacional para determinar a verdadeira Dívida Externa.

Fonte: QuatroCantos.com

2 comentários:

Unknown disse...

Fala melhor que qualquer parlamento.
Palmas para ele.
beijos!

Giulia disse...

É trágica essa ausência e descaso com a informação, entretanto o discurso é realmente impactante.

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