19 de maio de 2011

Os Portugueses... são mesmo cagões!

Os Portugueses, na sua grande maioria, são mesmo uns cagões!
Submissos, miseráveis, subservientes, lambe-botas e com uma aptidão imensa para a 'caganisse rastejante'.

A história é narrada por Clara Ferreira Alves, na Revista ÚNICA de 14 de Maio do Semanário EXPRESSO, mas quantos de nós, não tivemos já  conhecimento de cenas desta natureza? Quem não se lembra das histórias que o saudoso Jornal TAL & QUAL publicava?




A MENTALIDADE DO CRIADO
Deixarmos que nos considerem inferiores é um modo de sermos inferiores.


O vídeo é um divertimento. Refiro-me ao famoso vídeo do presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, apresenta­do nas Conferências do Estoril e desti­nado a pôr os finlandeses em sentido. E, já agora, o resto da Europa se puder ser. Apesar de os factos históricos se­rem atropelados, o marketing é bom e o sentido de hu­mor melhor. Nestes meses de difíceis negociações e humi­lhações não houve economista de quarta ordem e opinan­te bissexto que não tivesse, 'lá fora' e cá dentro, soletrado uns disparates sobre Portugal, como se um país se definis­se pelos poor standards das standards & poors. Eles cor­tam-nos o crédito e nós damos-lhe crédito a mais. Infeliz­mente, não somos os únicos. As agências de rating, como os economistas avulsos, vivem do crédito.

Não se trata tanto do orgulho nacional, que aguenta e é megalómano, mas da necessidade de não nos deixarmos intimidar. A não termos medo de gente que pensa que é muito importante mesmo que seja mui­to importante. E gente que é mesmo muito importante e tem um suplemento de grandeza não usa a intimidação como despor­to. Trata os mais pequenos com respeito. Os dois traços terríveis dos portugueses são o provincia­nismo, de que os cosmopolitas Eça (sobretudo Fradique Men­des) e Pessoa se desgostavam, e a subserviência. Esta subserviên­cia é o parente pobre e da provín­cia da soberba. Numa sociedade com graves desigualdades, e herdeira de uma sociedade sala­zarista e colonial de senhores e servos, de relações de po­testade assentes sobre a escravidão e a ignorância, a sub­serviência interiorizou-se e ficou um traço de carácter.
As Conferências do Estoril são um palco ideal onde se representam alguns desses traços. Gente como Francis Fukuyama, ou Mohamed EI Baradei, comportam-se com modos e civilidade, respeito pelos outros, dom que certos portugueses de meia tigela (grande expressão) que arro­tam postas de pescada (uma das mais singulares expres­sões da nossa língua, digna de figurar no vídeo) não têm nem terão. Vou contar um episódio. 


Num dos dias entrei no perímetro do Centro de Congressos do Estoril dentro de um belo carro, um Mercedes descapotável último modelo. Antes de tentar entrar na faixa de rodagem destinada ao parque de estacionamento reservado, precipitaram-se sobre mim, e o carro, vários polícias com sorriso e postura amável que indicaram a direcção com grande espírito de serviço e boa educação. Em seguida, vários jovens de fatinho ofereceram-me o dístico de Parque, que me incluía no grupo dos eleitos, e instruções, sorrisos, senhora doutora para aqui e para ali, ocupando-se de me arranjar um lugar e de me ajudar a estacionar ao lado dos outros Mercedes e BMW. E nem era eu quem guiava. Ninguém me perguntou o que ia fazer ali ou se tinha direito a parque reservado. No dia seguinte, entrei no mesmo perímetro reservado ao volante de um velho Twingo com o dísti­co 'dos eleitos' bem à vista. Os polícias mandaram-me logo parar com ar carrancudo quando tentei avançar para o parque, apesar de ter o dístico bem colocado. Onde é que pensa que vai? Disse onde é que pensava que ia. Um jovem carrancudo, olhando o dístico do carro com reservas, foi buscar uma lista e perguntou-me se estava ligada a alguma instituição. Consultou a lista, olhou para o carro, consultou o colega, e comecei a passar-me. Já tinha mostrado uma identifi­cação, um cartão com uma fita a atestar que era speaker, ele continuava a procurar um modo de me expulsar do reserva­do. Disse que ia apresentar o último orador, Mohamed EI Baradei. Não se deixou impres­sionar. Aí, um dos outros subita­mente baixou a cara para me olhar bem e reconheceu-me. Tu­do mudou. Disse-me logo para passar. Outro polícia carrancudo olhava para aquilo com desconfiança. Lá entrei no parque. Nin­guém me ajudou ou arranjou um lugar de estacionamento. 
Este pequeno filme portu­guês também podia e devia ser apresentado não aos finlandeses mas a todos os portugueses. É o traço comum do nosso subdesen­volvimento. Os pobres curvando a espinha e tirando respeitosa­mente o chapéu da cabeça pe­rante os fidalgos da casa mourisca. E, para ser rico, neste país, basta ter um carro bom. É o símbolo do status. Não admira que não haja empresário pato bravo que não quei­ra ter um Ferrari Testarossa. Se eu entrasse de Aston Mar­tin não era eu que apresentava o Baradei, era ele que me apresentava a mim, segundo a ontologia daquelas cabeci­nhas dos jovens de fatinho que pululavam. O fato de Fran­cis Fukuyama, por acaso, era dos mais amachucados. Se entrasse com ele no Twingo punham-nos fora.  


A desigualdade, que nos é imposta por fatores externos, é interiorizada nestes termos. Deixarmos que nos considerem inferiores é um modo de sermos inferiores. E, nisto, somos inexcedíveis. Pessoalmente, sempre me estive nas tintas para o que pensam de mim. Porque não deixo que ninguém me intimide. É mais simples do que parece . 



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