Adam LeBor, autor de The Budapest Protocol apresenta o seu livro de forma concisa mas
fascinante e dizendo que é “ficção” acrescenta logo que ele se baseia em
documentos reais da “intelligence” americana de 1944… Estamos,
portanto, entendidos sobre a “ficção” e os seus fundamentos e origens.
O livro mereceu, nesta edição portuguesa, uma certeira crítica de Filipe Luís,
na ‘Visão’. Diz o redactor da revista que “a guerra pode já ter
começado”… Não da forma que se espera que as guerras comecem mas de uma
outra: a guerra económica. E acrescenta: “No livro, Adam Lebor ficciona
sobre um suposto directório alemão, que teria como missão restabelecer o
domínio da Alemanha, não pela força das armas, mas da economia”.
“Suposto directório…” Sim talvez seja “suposto”. Mas há anos que gente
ligada à secreta inglesa garante que esse “directório” existe mesmo. E
vão, antecipadamente, revelando os passos seguintes da sua estratégia. E
não se têm enganado… Os livros, às vezes, têm destas coisas, é através
da “ficção” que se chega à realidade e aos conceitos teóricos que a
explicam. Como este de “guerra económica”… Welcome, Filipe Luís.
Prossegue o crítico: “a inflamada declaração
de Angela Merkel, numa entrevista à televisão pública alemã, ARD, em
que sugere a perda de soberania para os países incumpridores das metas
orçamentais, bem como a revelação sobre o papel da célebre família alemã
Quandt, durante o Terceiro Reich, ligam-se, como peças de puzzle, a uma
cadeia de coincidências inquietantes. Gunther Quandt foi, nos anos 40, o
patriarca de uma família que ainda hoje controla a BMW e gere uma
fortuna de 20 mil milhões de euros. Compaghon de route de Hitler,
filiado no partido Nazi, relacionado com Joseph Goebbels, Quandt
beneficiou, como quase todos os barões da pesada indústria alemã, de
mão-de-obra escrava, recrutada entre judeus, polacos, checos, húngaros,
russos, mas também franceses e belgas. Depois da guerra, um seu filho,
Herbert, também envolvido com Hitler, salvou a BMW da insolvência,
tornando-se, no final dos anos 50, uma das grandes figuras do milagre
económico alemão. Esta investigação, que iliba a BMW mas não o antigo
chefe do clã Quandt, pode ser a abertura de uma verdadeira caixa de
Pandora. Afinal, o poderio da indústria alemã assentaria diretamente num
sistema bélico baseado na escravatura, na pilhagem e no massacre. E os
seus beneficiários nunca teriam sido punidos, nem os seus empórios
desmantelados.
As discussões do pós-Guerra, incluíam, para alguns
estrategas, a desindustrialização pura e simples da Alemanha – algo que o
Plano Marshal, as necessidades da Guerra Fria e os fundadores da
Comunidade Económica Europeia evitaram. Assim, o poderio teutónico
manteve-se como motor da Europa. Gunther e Herbert Quandt foram
protagonistas deste desfecho.
Esta história invoca um romance recente de um jornalista e
escritor de origem britânica, a viver na Hungria, intitulado “O
protocolo Budapeste”. No livro, Adam Lebor ficciona sobre um suposto directório alemão, que teria como missão restabelecer o domínio da
Alemanha, não pela força das armas, mas da economia. Um dos passos
fulcrais seria o da criação de uma moeda única que obrigasse os países a
submeterem-se a uma ditadura orçamental imposta desde Berlim. O outro,
descapitalizar os Estados periféricos, provocar o seu endividamento,
atacando-os, depois, pela asfixia dos juros da dívida, de forma a passar
a controlar, por preços de saldo, empresas estatais estratégicas,
através de privatizações forçadas. Para isso, o directório faria eleger
governos dóceis em toda a Europa, munindo-se de políticos-fantoche em
cargos decisivos em Bruxelas – presidência da Comissão e, finalmente,
presidência da União Europeia.
Adam Lebor não é português – nem a narração da sua trama se
desenvolve cá. Mas os pontos de contacto com a realidade, tão
eloquentemente avivada pelas declarações de Merkel, são irresistíveis.
Aliás, “não é muito inteligente imaginar que numa casa tão apinhada como
a Europa, uma comunidade de povos seja capaz de manter diferentes
sistemas legais e diferentes conceitos legais durante muito tempo.” Quem
disse isto foi Adolf Hitler. A pax germânica seria o destino de “um
continente em paz, livre das suas barreiras e obstáculos, onde a
história e a geografia se encontram, finalmente, reconciliadas” –
palavras de Giscard d’Estaing, redator do projeto de Constituição
europeia.
É um facto que a Europa aparenta estar em paz. Mas a guerra pode ter já recomeçado.”
Fonte: Inteligência Económica
Editora: Alfabeto
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