16 de junho de 2010

Investigadores relacionam consumo de arroz branco com diabetes tipo 2


  Consumir arroz branco frequentemente favorece o aparecimento de diabetes tipo 2, enquanto o risco de adquirir esta  doença é reduzido com o consumo de arroz integral, indica um estudo americano publicado ontem no Archives of Internal Medicine.  Investigadores da Harvard School of Public Health acompanharam o consumo de arroz branco e integral de 157463 mulheres e 39765 homens, que foram seguidos em três estudos diferentes durante mais de 14 anos.

Verificaram então que as pessoas que consumiam arroz branco cinco vezes por semana tinham 17 por cento de hipóteses acrescidas de desenvolver diabetes tipo 2 relativamente àquelas que o comiam uma vez por semana apenas.

"Nós acreditamos que substituir o arroz branco e outros grãos refinados por grãos integrais, como o arroz integral, ajuda a reduzir o risco de diabetes tipo 2", disse o autor do estudo, Qi Sun, tendo em conta que mais de 70 por cento do arroz consumido nos Estados Unidos é branco.

"Há séculos que o arroz é um alimento de base nos países asiáticos", referem, acrescentando que “desde o século XX, os progressos feitos nas tecnologias do tratamento do cereal possibilitaram uma produção em massa de cereais refinados. Durante este processo, a casca do grão, assim como as partes intactas do gérmen, são retiradas para produzir arroz branco que, de facto, consiste num endospermo cheio de amido".

in  Ciência Hoje

5 de junho de 2010

Ao contrário de Nurse Jackie

   

   A infidelidade feminina é mais grave e definitiva, não porque seja moralmente mais condenável, mas porque é mais sintomática.
   Um homem pode ser infiel à sua mulher e, porém, amá-la incondicionalmente.
   Uma mulher infiel já não ama o seu marido.


As vezes digo, entre amigos: "A infidelidade feminina é mui­to mais grave e definitiva do que a masculina» - e de ime­diato me caem em cima o Carmo, a Trindade e o obelisco do Cutileiro, objecto ainda por cima assaz percutante. As primeiras a protestar são as senhoras: que diabo é isso, no século XXI, és um quadrado, vai dar banho ao cão. Os segundos são os homens sedutores, de repente urgentes de capitalizar a minha falta: era o que faltava, nem pensar, os direitos são iguais e os deveres tam­bém, eu ao sábado aspiro a casa e tudo. E os terceiros, com excepção de um ou outro abençoado que faz um esforço por divisar o que estou a tentar estabelecer, são todos ao mesmo tempo: mas porque é que uma infidelidade é pior do que a outra, se em qualquer dos casos consiste numa traição, ao outro e a nós próprios, se não mesmo a todo o género humano?
Acho curioso que tantos concebam que um dilema de tal forma fundador para a espécie possa ser desvendado com base apenas nos preceitos da Constituição da República. E acho mais curioso ainda que muitos daqueles que conseguem, enfim, abstrair-se da esfera banal dos direitos e dos deveres não cheguem nunca a transcender o âmbito da moral. Porque aquilo de que estou a falar não é um problema político, nem sequer social: é emo­cional mesmo. A infidelidade feminina é mais grave e definitiva, não porque seja moralmente mais condenável do que a masculina (são ambas moralmente muito condenáveis, tanto quanto me parece), mas porque é mais sintomática. Diz uma velha frase de t-shirt que, para cometer uma infidelidade, a mulher precisa de um motivo, enquanto o homem só precisa de uma mulher. E eu próprio lhe chamaria "um tre­mendíssimo cliché», se não se desse a circunstância de, regra geral (que é o que interessa para este tipo de generalização exaltada), ser absolu­tamente verdade.
Eu podia dar o exemplo da biologia (e não há nada mais poderoso do que a biologia): ao contrário do homem, uma mulher pode engra­vidar de outro e dar ao esposo, sem que ele sequer chegue a sabê-lo, um filho que não é dele. Só isso já desequilibra os pratos da balança. Mas nem sequer é preciso irmos tão longe. Um casamento pode sobreviver a um homem infiel e pode sobreviver a uma mulher infiel também. Um casamento são duas pessoas que estão juntas e, felizmente, as razões por que as pessoas estão juntas não se reduzem ao sentimento. Coisa diferente, porém, é o amor propriamente dito. Um homem pode ser infiel à sua mulher e, no entanto, amá-la eterna e incondicionalmente. Uma mulher infiel simplesmente já não ama o seu marido. Pode gostar dele. Pode ter pena dele. Pode estimar a vida que os dois têm juntos: as rotinas, os objectos, os lugares, os cheiros, as pessoas. Mas pode vi­ver sem eles também  e sabe-o. Porque, sendo tão capaz como o homem de ausentar-se do seu corpo, não será capaz nunca de ausentar-se das suas emoções. E porque, se o fizer, já não encon­trará o caminho de regresso.
A infidelidade feminina é mais grave e sinto­mática porque (e perdoem-me o recurso new age, juro que não se repete) a mulher tem mais inteligência emocional do que o homem. Porque tem mais auto-domínio, talvez, mas sobre­tudo porque tem outra capacidade de ver o big picture e de agir em prol da sua preservação. As mulheres são mais calculistas. Os homens mais românticos. De resto, e que todos somos dotados da mesma natureza poligâmica, nem sequer discuto. Que infidelidade e traição nem sempre são uma e a mesma coisa, menos ainda. O que sei é: se os homens lidam muito pior com a traição, há uma razão muito clara para isso. Os homens são inseguros. Mas são-no precisamente porque sabem que, no dia em que foram traídos, todo o seu mundo ruiu. O melhor mesmo é não desco­brir nunca. Assim como assim, nós nunca tivemos a presunção de saber tudo  e, desde que também não desconfiemos, felizes viveremos com a nossa ignorância.

In 'Noticias Sábado' 230 por Joel Neto

10 de abril de 2010

Os Kidadults




Este ano faço 40 anos. Para mim a palavra obrar significa fazer cocó, mais nada. Não tenho um único amigo que considere um obreiro, um esforçado, um empreendedor, acho a minha geração uma caca de geração sem força. Um achismo como qualquer outro, sujeito ao vosso juízo, mas esta gaja hoje está parva? Estou. Devo estar. E também estou a passar por uma segunda adolescência brava e só vejo malucos e maluquice à minha volta, vamos lá a acordar ou andamos todos aqui aparvalhados da fluoxetina?
Indo um bocado mais longe, acho que somos toda uma cambada de fodidinhos da cabeça. Eu sei que isto não é bonito de se dizer, mas deixem lá a cerimónia e o respeito um bocadinho e oiçam. A nós venderam-nos gato por lebre, umas ideias malucas, malucas, malucas.
Em 1982 isto ia ser tudo paletes de felicidade e esperança e guito, guito, muito guito a entrar pelas fronteiras e pelas estradas, guito que hoje não há a recompensar trabalho que também não há. O meu pai até comprou um Citroen GSA PalIas que subia a carroçaria quando se ligava. Um luxo, acreditei que quando chegasse a minha altura o meu carro ia voar. O meu carro hoje não voa, mas também não fui eu que o comprei. Herdei-o. A minha tia, da geração anterior à minha e que se fartou de bulir, morreu, em seis meses, com um cancro.
Hoje um engenheiro recém - formado no Rio ganha três vezes mais que o parvo do tuga explorado. Isto é uma desgraça um paizinho de merda. Como é uma desgraça vivermos quase todos com mil euros por mês, depois de nos terem enchido os ouvidos com inanidades deste calibre, Mónica Maria, homens e mulheres são iguais, aprende e vive com isto. Onde é que já se viu tamanha palermice? Só na cabeça dos nossos pais. Perguntem a um norueguês, hoje com 40 anos, o tipo de mulher que esta brincadeira produziu. E ele mostrar­-lhes uma mulher - homem que não sabe ser mulher - mulher, toda tonta e com carta de pesados.
Foi - nos vendido um sonho de consumo totalmente irreal, criaram em nós expectativas, que agora, chegados aos 40, estamos fartos de saber que não podem ser realizadas, esta merda não está a bater certo para quem cresceu a ver os desenhos animados búlgaros, do Vasco Granja, nem para quem aprendeu a votar, de braço no ar, as tropelias dos amigos, no Externato Fernão Mendes Pinto. Somos uns meninos mimados, os filhos do centrão e dos centros comerciais maiores da Europa, das viagens a Espanha no Verão, sem ter de passar pelas apalpadeiras na fronteira do Caia, os meninos que viram aparecer as primeiras televisões a cores, os primeiros vídeos e aquelas iogurteiras que ao fim de um mês perdiam o uso porque faziam os piores iogurtes do mundo. Não, talvez o pior fosse aquele que crescia de uma nhanha de uma planta romena, tipo fungo. Também comi. E agora gosto de homens com barba de três dias e só me sinto bem quando faço bigodinhos de Hitler, na depilação. Tive sempre bolachas em casa, queijo flamengo, Nesquik, papa Cerelac, Pensal de Chocolate e Nestum Figos e Mel. Tomei óleo de fígado de bacalhau, tinha discos do Sérgio Godinho, do Chico Buarque, dos Bee Gees e do Fernão Capelo Gaivota. Bebia Coca-Cola, jogava ténis no CIF e tinha semanada. Os meus pais foram disfuncionais q. b., mas ainda falo com eles e gosto dos dois, usei farda no colégio, meias azul-escuras até ao joelho Lolita sexy, andei muito com saias kilt que picavam e de gola alta, igualzinha ao meu irmão. Aprendi a viver no meio, na zona cinzenta, à espera que tudo viesse ter comigo. E vem.
A gente esforça-se mas esforça-se pouco. A gente luta, mas luta pouco, a gente quer tudo, porque sempre teve tudo, mas não tem os guts. Estamos cansados do sonho da treta europeia, queremos ser fazendeiros no Facebook usar cuecas boxer do Scooby-Doo, comprar uns Ali Star amarelos aos 39 anos e que nos deixem em paz, adulthood has lost its appeal. Antigamente as pessoas queriam crescer e sair de casa e casavam com energúmenos e energúmenas só por causa disso.
Hoje já ninguém quer ser polícia ou bombeiro. Muito menos tem vontade de casar ou sequer acreditar que o amor pode vir com o tempo e em formas desconhecidas e nem sempre imediatamente compensadoras. Quando tinha 15 anos li, em casa da minha melhor amiga, na revista Sputnik que uma camponesa da parvónia russa se estudasse poderia transformar-se numa grande astronauta. Faço tudo para voltar a acreditar numa merda destas. Por falar nisso, Teresa, eu perdia à canasta e ao king só para tu não amuares. 
Mónica Marques é escritora. Autor do blogue Sushi Leblon, publicou o livro Transa Atlântica
e publicou esta crónica no suplemento do i “nós 49”

7 de abril de 2010

Bons professores e regras morais contra a sociedade liquefeita

Disseram que as normas impostas traumatizavam os meninos. Criaram-se pequenos monstros.
Getty Image







Há 50 anos nasceu a pedagogia segundo a qual não se deviam impor regras às crianças, apenas dar-lhes indicações. Foi um descalabro, a sociedade liquefez-se. É preciso reconstruí-la.
 Os sociólogos estão sempre a repetir-nos que o nosso sistema social está cada vez mais desestruturado. Passámos da sociedade industrial para a pós-industrial, depois para a pós-moderna e por fim para a sociedade que Bauman designa por líquida, por não ter regras nem laços fortes. Contudo, para mim, as fases de desestruturação são seguidas de fases de reconstrução, e essa nova fase reconstrutiva já começou. Vejamos o campo do ensino. Há 50 anos, do encontro entre Dewey, a psicanálise e o vulgar marxismo, nasceu uma pedagogia segundo a qual não devem impor-se regras, mas apenas dar indicações. As crianças não devem decorar a tabuada, poemas, nomes das terras, datas da história, não devem estudar gramática nem análise lógica. Também não devem aceitar a autoridade dos pais e dos professores. Esses pedagogos achavam que, se o indivíduo fosse mais livre para criar, o florescimento cultural seria assombroso. Pelo contrário, gerou-se um vazio que foi preenchido pela cultura mediática.

As crianças não sabem poemas mas conhecem canções, não seguem os mandamentos morais, mas sim "o que dizem os colegas", não conhecem os clássicos, mas sabe o que dizem as personagens televisivas. Na verdade, a pedagogia que nivela tudo por baixo no intuito de esbater as diferenças teve como consequência tornar ignorantes milhões de pessoas e privilegiar aqueles que podiam ir para a universidade e para escolas de excelência com professores respeitados e programas rigorosos. É por essa razão que há cada vez mais pessoas a quererem uma escola mais séria, mais rigorosa, com professores preparados e mais respeitados. Mas também começam a perceber que é essencial que existam normas morais básicas interiorizadas, aprendidas até ao fim da infância.

Não se deve esperar que as crianças aprendam sozinhas que não devem roubar ou atormentar os colegas. Temos de as ensinar e fazer com que isso lhes fique gravado na mente, se torne um hábito. Por fim, também estamos a perceber que a nossa ordem social se baseia num mandamento fundamental: "Faz ao outro o que gostarias que ele te fizesse a ti." É um mandamento que não pode ser demonstrado com um cálculo custo-benefício. Ou se aceita ou não. Em 50 anos, passámos do autoritarismo mais cego à anarquia mais completa, da sociedade mais rígida à sociedade mais fragmentada, liquefeita. Mas ignorar ou contornar a liquefacção não basta; é preciso iniciar a reconstrução.
por Francesco Alberoni, Publicado em 06 de Abril de 2010 no jornal i
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