Está a tornar-se cada vez mais evidente que a crise está a acabar com o Estado de direito e a retirar-nos a liberdade.
Qual é o momento em que aquilo que parecia normal se torna intolerável?
Que gesto transforma a submissão em recusa? Olho uma imagem. As
fotografias são a prova da existência do gato de Schrödinger. As pessoas
estão simultaneamente vivas e mortas. Na imagem de que falo vêem-se
centenas de prisioneiros iraquianos vigiados por militares iranianos. O
registo data, creio, dos anos 80, durante a guerra entre o Irão e o
Iraque. A composição dos corpos não tem arte, mas há qualquer coisa que
espanta. No meio dos muitos prisioneiros a fazer as suas orações diárias
há três que estão em pé em posição de desafio. Tornaram o momento
irreversível. Preferiram levantar-se a seguir os outros. Sem um fim, sem
possibilidade de vencer. Apenas um não.
Há momentos em que um acto quebra uma paz podre e torna insuportável tudo aquilo que até àquele momento tinha parecido normal.
Quando um estado perde a vergonha, os seus responsáveis deviam perceber
que depressa os cidadãos ficarão a um passo de lhe perder o respeito.
A sentença que condena um dos ocupantes da escola da Fontinha a cinco
meses de prisão suspensa, por alegada agressão às autoridades, é um
exemplo de prepotência judicial. A justiça foi de facto cega aos vídeos,
às fotografias e aos testemunhos de população e ocupantes. O juiz
acreditou piamente que mais de 100 polícias, fortemente armados, se
sentiram ameaçados por 20 ocupantes e pela população da Fontinha.
É visível que a sentença é política e faz da polícia e da justiça
órgãos subordinados a uma agenda repressiva. Em tempos de crise, os
cidadãos vêem as suas liberdades e direitos cortados. Para gente deste
teor, cabe à polícia e à justiça obrigar a população a aceitar os
desmandos de cabeça baixa. A situação não é nova, há muito tempo que
franjas consideráveis da nossa sociedade já não têm direitos cívicos.
Quando uma rusga invade um bairro suburbano das grandes cidades as
populações são tratadas como criminosos mesmo que haja provas em
contrário. Sobretudo se houver prova em contrário. E pior se algum deles
pretender dizer que tem direitos. Por milagre, sempre que a polícia
dispara para o ar há alguém que fica estendido no chão. A explicação
para a nossa justiça não está normalmente no tiro, mas na estranha
altura a que voam os pobres, os negros, os imigrantes e os radicais
portugueses que andam nas ruas. O que é novo nesta violência de Estado é
que ela se estendeu dos excluídos às classes médias. Hoje o governo
corta ilegalmente salários e reformas. Obriga pessoas que tinham
compromissos familiares a não os cumprir. Empregados e reformados não
conseguem pagar as casas, os remédios nem garantir um mínimo de
subsistência.
Os quase 20% de desempregados existentes estão ainda pior,
espera-os um longo calvário: empregos de miséria, precariedade absoluta
e não saber como vão conseguir sobreviver até a uma reforma que
provavelmente não vão conseguir receber.
Esta situação de total injustiça tem sido aceite pela maioria das
pessoas, que baixam a cabeça, têm medo de perder o pouco que têm, e
rezam para que as coisas passem. A verdade é que elas só vão piorar
enquanto quem está sujeito a esta situação indigna não levantar a sua
voz.
Vendem-nos que só as soluções dialogantes podem garantir a nossa saída
desta espiral de empobrecimento e perda de direitos civis. Fazendo este
caminho e obedecendo a estas premissas chegamos até aqui. Talvez fosse
mais sábio fazer exactamente o contrário: resistir e desobedecer àqueles
que violam as leis da democracia e da liberdade, mostrando que pela sua
reacção prepotente e violenta não têm razão.
Numa das tragédias clássicas do teatro grego, Antígona opõe-se às leis
da cidade que a impedem de enterrar o irmão. Para ela as leis da cidade
não estão acima do que deve ser feito. A sua tragédia vai derrubar a
tirania. Há milhares de anos, como agora, a liberdade vale mais que os
repressores de turno. Basta um gesto para o perceber.
Por Nuno Ramos de Almeida, Director Executivo do Jornal I, publicado em 11 Maio 2012.
12 de maio de 2012
2 de maio de 2012
CAPITALISMO - A Verdade Económica que nos Governa
Capitalismo mostrado, através de desenhos, de uma forma perceptível,
para que possa saber como é que este"bom" sistema económico mundial
funciona!
...e lá vai a formiga no carreiro......
...e lá vai a formiga no carreiro......
27 de março de 2012
QUE LIBERDADE OU QUE DEMOCRACIA VIVEMOS! A QUE LEGALIDADE ASSISTIMOS?
Quando
as pessoas dizem ou pensam que vivem em democracia, quando dizem que a
manifestação de 22/03/2012 bem como todas as anteriores eram legais, e
por tal se chocam muito com a brutalidade policial nas mesmas. Quando
dizem que em ditadura é que as manifestações são proibidas e reprimidas e
somente lamentam os acontecimentos ou meramente se indignam com eles
sem entenderem o seu real significado.
Quando dizes que só nos
governos PSD é que se vê isto. Tudo isto encerra em si um alto
pensamento NAIF em política. Essa maneira de pensar da maioria das
pessoas é perigosa por não ser suficientemente lúcida acerca do que é
politica.
Elas não sabem, não entendem ou esqueceram, que o poder está
nas mãos de uma classe e que ela oprime as restantes. Que não há, por
tal, nunca, mas nunca, neste quadro social, qualquer tipo de liberdade
ou de democracia, são só concessões temporárias. Dai a sua ingenuidade
política, pelo facto de ainda não terem entendido isto e o memorizarem
bem na sua mente.
A política é muito mais do que se possa
imaginar. Não é um jogo em, ou na "democracia", porque não existe
democracia alguma na sociedade. Nem é uma perspectiva de mudança, ou uma
oportunidade para melhorar a sociedade ou as condições de vida das
pessoas. Só porque existem partidos e eleições, ou porque nos deixam
falar, ou porque nos permitem a "liberdade" de nos manifestarmos, isso
não é e nem significa democracia.
Tudo isso é uma fachada. O
essencial está salvaguardado e enquanto o estiver, ou seja, o poder nas
mãos da classe dominante, o jogo se vai jogando. Mas este “jogo” está
viciado à partida, porque eles, a classe dominante, neste jogo do
monopólio, do Carnaval Eleitoral e “democrático”, estão com a "banca" em
suas mãos e subvertem o jogo, quando eles entenderem e sempre que o
intendam.
Toda a governação, todo o governo feito mandante de
todos, defende apenas e somente o mais importante, os privilégios de
classe, a manutenção do poder nas mãos da classe burguesa. Por isso é
normal esta actuação. Não a vermos assim é sermos naif, ingénuos demais.
Não há aqui qualquer legalidade na manifestação.
Não é nesta
dimensão que temos de analisar as coisas. Legal, seria ela ser feita em
apoio de uma causa de todos, não contra alguém. Entenda-se que
legalidade não é nos podermos manifestar, isso é um direito, direito que
foi conquistado. Ainda que a classe dominante diga respeitar a
"legalidade" deste tipo de manifestações, isso é uma falsidade. Ela
apenas concede, por enquanto, esta aparente liberdade e aparente
legalidade, que mais deve ser um direito, de nos manifestarmos, porque
ainda não tem a força e o total da opinião pública da parte dela.
No dia que o tenha tudo muda de figura. Deixa de haver legalidade, ou
direitos, ou o que quer que seja de espécie alguma. O que temos é uma
determinada conjectura, o que vivemos é um quadro conjectural
temporário. Quando as forças que nos antagonizam, quando a classe
dominante o conseguirem alterar, tudo vai ser diferente.
Claro
que a luta está na rua, está no ar. Quem vai vencer esta luta, quem vai
sair vencedor não sabemos, se nós se eles. Em última análise, a
história dar-nos-á a vitória, porque não se pode contrariar a roda da
história. A missão do inimigo é fazer com que ela ande o menos rápida
possível. A nossa missão é fazer o contrário. Podemos perder esta
batalha não a vitória final do avanço da história. A luta ainda só agora
começou! A luta, pode ser bem mais dura e mais prolongada. Deixem-se de
ilusões e de ingenuidades!
Por: Campos Victor, in PARTIDO REVOLUCIONÁRIO LIBERTÁRIO / Facebook
9 de março de 2012
Hugo Chavez: quando a utopia roça a realidade
No ocidente, a Venezuela pode parecer um país folclórico com as suas crises e o seu presidente carismático que desafia os Estados Unidos à custa do seu petróleo. Mas para além das imagens fáceis, não devemos ignorar que este país está a viver um profundo processo de transformação social e os resultados positivos estão à vista.
Para
além da propaganda ocidental que ridiculariza e estigmatiza Hugo
Chavez, ao olhos dos mais mal informados, a realidade dos números é eloquente, a Venezuela progrediu muito nestes 14 anos de governação.
Desde a sua eleição em 1998, Hugo Chavez levou a cabo uma transformação económica e social que melhorou em muito o nível de vida de uma população que cultivava o paradoxo de ser um dos países mais ricos do continente americano e de viver na pobreza.
Digam
o que disserem, o presidente é apreciado pelo seu povo. Três eleições
presidenciais, em 1998, 2000 e 2006 com 60% de votação.
Esta
popularidade explica-se em parte pelas reformas económicas e sociais
que permitiram melhorar o nível de vida da população. No entanto, nem
tudo foi fácil. Foi vítima de um golpe de estado planeado pelos Estados
Unidos em abril de 2002. tendo sido "salvo" pela extraordinária
mobilização popular.
Nacionalizações.
Em
2003, o governo toma o controlo da empresa de Estado de Petróleos da
Venezuela (PDVSA) nacionalizando este sector. Actualmente detém 60% de
participações no petróleo venezuelano. Em maio de 2007, nacionaliza a
Orenoque, que possui as maiores reservas mundiais de petróleo.
Antes,
a multinacionais extraíam o barril de petróleo com um custo de produção
de 4 dólares e vendiam-no ao estado da Venezuela ao preço de 25
dólares. Com este novo sistema, o estado poupo 3 mil milhares de
dólares. O governo também decidiu aumentar o imposto sobre os lucros de
34% para 50%, após ter constatado que várias empresas fugiam ao fisco.
O
governo nacionalizou várias empresas de electricidade e de
telecomunicações que detinham um verdadeiro monopólio. Assim, as
empresas Compañia Anónima Nacional Teléfonos de Venezuela S. A. (CANTV) e
Electicidad de Caracas, detidas por capitais americanos passaram para
controlo do estado venezuelanos.
Agricultura.
O
governo de Hugo Chavez recuperou cerca de 3 milhões de hectares, ou
seja 28,74% de terras produtivas aos latifundiários. No total, cerca de
6.5 milhões deverão ser nacionalizados. O objectivo é obter a
independência agrícola. 49% das terras recuperadas foram redistribuídas
aos camponeses com apoio de meios técnicos e financeiros, até então
esses camponeses eram escravos dos grandes proprietários. Estas reformas
permitiram à Venezuela um crescimento nos últimos dois anos de 11,2%,
neste sector.
Uma revolução social.
As
nacionalizações de vários sectores da economia trouxeram uma mais-valia
que permitiu uma verdadeira revolução social. Senão vejamos: o programa
Fonden, criado para financiar os mais necessitados.
O
nível de pobreza passou de 20%, em 1998, para 9,5%. O desemprego
passou, nesse mesmo período de 16% para 7%. O nível de desigualdade
regrediu em 13%. Os beneficiários de pensão de reforma aumentaram em
218%.
O
PIB da Venezuela passou de 88 mil milhões de dólares, em 1998, para 257
mil milhões em 2008. 98% da população tem agora água potável.
O
salário mínimo mensal passou de 118 dólares em 1998 para 286 dólares em
2008, o mais elevado do continente. Em 1996 era de 36 dólares. As
mulheres solteiras e os deficientes recebem o equivalente a 80% do
salário mínimo. O horário de trabalho é de 6 horas, 36 horas semanais.
Educação.
O
novo acesso à educação permitiu que 1,5 milhões de venezuelanos
aprendessem a ler, isto à custa de uma grande campanha de alfabetização.
A própria UNESCO declarou que o iletrismo estava erradicado na
Venezuela. Essa organização declarou também, que a Venezuela era o
quinto país do mundo com mais universitários.
Todo
o ensino é gratuito, incluindo o acesso ao ensino superior.
Praticamente 100% das crianças estão escolarizadas, sendo que na
primária os alunos beneficiam de três refeições por dia.
Os Media.
Para
quem acusa o governo da Venezuela de controlar os meios de informação,
aqui ficam alguns números: em 1998 havia 291 rádios FM privadas, 9
públicas e nenhuma comunitária, em 2008 eram 472 rádios FM privadas, 79
públicas e 243 comunitárias.
Na
televisão mesma coisa, em 1998, haviam 26 televisões privadas e 2
públicas, em 2008 eram 65 televisões privadas e 6 estatais (VTV,
Telesur, Vit Tv, Tves, Avila TV, ANTV) e 35 comunitárias.
Luta contra a droga.
Apesar
da Venezuela ser palco de um grande tráfico de droga, em 2010 foram
apanhados 64 000 kg de droga, 17 chefes de organizações criminosas
presos e 18 laboratórios de droga desmantelados, sendo que a Venezuela
foi um dos países do mundo que mais lutou contra a droga.
Saúde.
O
sistema nacional de saúde foi criado para permitir o acesso ao cuidados
de saúde a todos os venezuelanos de uma forma totalmente gratuita. Este
permitiu que a taxa de mortalidade infantil descesse para números
inferiores a 10 por mil.
Para
eliminar os problemas de mal-nutrição, o governo criou a chamada
"Missão Alimentar". São lojas estatais, as "Mercal" cujos artigos são
subvencionados pelo estado em 30%. 14 000 pontos de venda e metade da
população faz aqui as suas compras. 4 milhões de crianças recebem
alimentação gratuita através do programa de alimentação escolar, eram
250 000 em 1998.
Solidariedade internacional.
A
Venezuela antecipou e reembolsou ao FMI e ao Banco Mundial. Criou o
"Banco do Sul" destinado a promover a integração económica regional, que
permitiu doar em 2007 8,8 mil milhões de dólares aos países da América
do Sul.
Democracia participativa.
A
democracia participativa foi reforçada com novas leis que aumentam o
poder dos chamados "Conselhos Municipais" que permitam uma certa
autogestão e organização do poder territorial.
Desde
2006, foram criados pequenos grupos de 200 a 400 famílias que decidem
em assembleia quais são as necessidades municipais, como por exemplo, a
construção de esgotos ou o fornecimento hospitalar. O governo fornece
então a esses municípios o dinheiro necessário, através de uma "Banca
Municipal", sem passar pelos presidentes das juntas.
A
ideia é que pouco a pouco esses Conselhos Municipais tenham cada vez
mais poder e consigam uma auto-gestão popular directa. Mais tarde, eles
serão agrupados em associações e depois federações. A médio prazo, os
presidentes de junta e governadores irão desaparecer.
Os
Conselhos Municipais são benéficos, porque permitem a discussão dos
problemas reais da comunidade e um empenho das populações na resolução
dos seus problemas, apesar de limitados por dependerem do fornecimento
estatal, havendo o risco de poder instalar-e uma relação vertical de
clientelismo.
O
objectivo de uma reorganização do poder territorial constitui uma
verdadeira revolução. A concepção clássica de uma república dividida em
províncias será substituída por cidades comunitárias com poderes de
auto-administração e auto-governação. O Ministério da Economia Popular
transfere o dinheiro aos Bancos Municipais organizados em cooperativas
que utilizarão esse dinheiro de acordo com o que foi decidido nas
assembleias de cidadãos.
Muito
ainda está por fazer: Descentralização do poder executivo, actualmente
nas mãos de um só homem, Hugo Chavez; reforma do sistema
judiciário; luta contra a corrupção; luta contra a criminalidade,
sobretudo nas grandes cidades; diversificação dos meios produtivos para
não fazer depender a economia unicamente dos rendimentos petrolíferos.
Mas muito foi feito, ao longo destes 14 anos de chavismo, numa altura em
que a economia mundial atravessa uma crise financeira sem precedentes, a
Venezuela representa uma alternativa credível ao neoliberalismo
selvagem.
Por Octopus
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